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Burlesco | E a arte do striptease

Agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura. Inspiradas em tanta criatividade, reunimos algumas luluzinhas para falar nos próximos dias do relacionamento delas, com a arte e a cultura. Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp. Divirtam-se conhecendo um pouco da dança burlesca!

pernas e meias |  Imagem: SWANclothing - Flickr
Burlesque / Imagem: SWANclothing – Flickr

Olá! Meu nome é Lola* e, como cantava Barry Manilow, eu sou uma showgirl. 😉

Esta é a Semana de Arte e Cultura do LuluzinhaCamp, e eu estou aqui para contar pra vocês sobre uma modalidade de dança ainda pouco conhecida no Brasil: a dança burlesca.

Uma breve história do Burlesco

Antes, um pouquinho de história. O burlesco como conhecemos atualmente teve origem nos Estados Unidos, na década de 1860. Era um show de variedades onde tudo era exagerado (burlesco significa exagero), e era composto principalmente de números de comédia, principalmente sátiras políticas, e os grandes números de striptease.

Sim, você leu direito: striptease! Por ser burlesco, eram números muito exagerados, teatrais, que eram sensuais ao mesmo tempo em que tiravam sarro da sensualidade. Ah, e a dançarina nunca fica completamente nua: um tapa-sexo ou calcinha fio dental e os pasties, aqueles enfeites que cobrem os mamilos, são obrigatórios. Por causa da censura no século 19, estes elementos eram fundamentais.

Quer um exemplo? A grande estrela da época, Gypsy Rose Lee, era expert na arte de misturar sensualidade com comédia e inteligência.

*“A Psicologia de uma Stripteaser”, por Gypsy Rose Lee, em versão apropriada para TV. Aprecie a beleza deste monólogo!

A dança burlesca

Os shows burlescos permaneceram populares até a década de 1940, depois foram caindo na marginalidade. Alguns filmes de Hollywood tentaram manter o estilo, recriando o espírito das performances burlescas entre 1930 e 1960, ou incluindo cenas ao estilo burlesco em grandes filmes como Cabaret, de 1972, entre outros.

A própria Gypsy Rose Lee teve sua vida retratada no filme Gypsy, de 1962, estrelado por Natalie Wood. Mas foi somente no início dos anos 1990 que o burlesco voltou à cena com nomes como Catherine D’Lish, Jo Weldon e…  Já adivinhou? Dita Von Teese.

 

Então, o burlesco é isso. É a arte de tirar a roupa com sensualidade, mas ao mesmo tempo de forma divertida e teatral, mesclando elementos de danças como jazz, charleston e dança do ventre, entre outras, em coreografias que, não raro, contam uma história para o público.

Além disso, o burlesco apóia a diversidade. No burlesco não existe o “corpo perfeito”: gordinhas, magrinhas, gostosas ou não, a dança é democrática e tem espaço pra todo mundo. Só não podem faltar muitas plumas, muito Swarowski, muito glamour e muito senso de humor! 🙂

Onde aprender mais sobre o Burlesco

Livros:

Filmes:

Disclaimer: o flime Burlesque, com a diva Cher e a Xtina, não tem nada a ver com burlesco. O clube retratado no filme é, no fim das contas, um cabaré. O blog The Frisky tem um artigo ótimo sobre isso, vale a leitura: What Actual Burlesque Stars Think Of The Movie “Burlesque”.

*Photo Credit: SWANclothing via Compfight cc


*Lola Kitt é showgirl, Luluzinha e stripper, com muito orgulho. Há dois anos apimenta a cena noturna paulistana com performances burlescas de muito glamour. Para saber mais da moça: contato@lolakitt.com / www.lolakitt.com

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Arteterapia | A arte como terapia

Agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura. Inspiradas em tanta criatividade, reunimos algumas luluzinhas para falar nos próximos dias do relacionamento delas, com a arte e a cultura. Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp. O tema de hoje é Arteterapia. Divirtam-se!

 

lápis de cor coloridos - Imagem: YannGarPhoto - Flickr
I love colors / Imagem: YannGarPhoto – Flickr

Meu nome é Ana Carolina* e falar sobre Arteterapia justamente na semana de Arte e Cultura é um privilégio, uma alegria e um avanço. Já li e ouvi muitos artistas dizerem que “fazer” Arte, seja lá de que forma, é uma terapia. Tá na boca do povo, mesmo sem entenderem de forma clara ou técnica de que maneira essa dinâmica funciona.

Acontece que expressão artística é imemorial. Faz parte da história, dos rituais, da beleza, da sobrevivência. E de século em século, ano após ano vimos brotar inúmeros e talentosos artistas capazes de encantar, de chocar, de modificar pessoas através de seus ideais e manifestos artísticos… E eis que a prática de transformar pessoas e seus rumos pessoais foi sistematizada e formatou-se como Arteterapia, Terapia Artística, Arte Integrativa e tantos outros nomes que também caberiam aqui.

Por que Arteterapia?

Jung, o famoso médico que nos trouxe conceitos como Arquétipos, Inconsciente Coletivo e Psicologia Analítica, diz que o potencial criativo do ser-humano é inato. E foi basicamente este conceito que me trouxe à Arteterapia. Inúmeros são os motivos, mas descrevo alguns aqui:

  • A possibilidade do processo terapêutico que normalmente é penoso, longo e árduo em gerar como sub-produto manifestações artísticas que promovem naturalmente este potencial criativo que habita os seres-humanos;
  • A capacidade dos diálogos e expressões não-verbais que facilitam e florescem o caminho dx interagente (paciente ou cliente também servem) e norteiam a atuação dx terapeutx;
  • O contemplar da beleza de qualquer produção artística, sem necessitar de apreciação estética, justamente porque ali jaz a revelação de uma profundidade tão bela quanto poética;
  • A possibilidade em no meio do caminho fazer-se descobrir um artistx que passa a te habitar, cujo caminho é sem volta.

A Arteterapia e eu

Aconteceu comigo. Após o término de minha formação profissional me apropriei da poeta que não sabia ou não permitia que vivesse em mim. Deixei de lado a frustração de minha sensação de incapacidade com os materiais plásticos, para entrar em contato com uma expressão artística mais conceitual, corporal e poética.

Tem um lado meu que também se encanta com o trabalho Arteterapêutico porque ele não é excludente, é inclusivo, transdisciplinar. Podemos utilizar Arte em qualquer vertente terapêutica, seja ela Psicanalítica, Corporal, Xamânica… Você pode já ser terapeuta, artista ou educador e complementar sua atuação através de ferramentas terapêuticas artísticas.

Arteterapia é trazer para uma relação terapêutica qualquer manifestação artística que seja capaz de transformar, que se torne ponte de uma relação entre interagente e terapeuta, cuja riqueza para ambos é inestimável.

O profissional de Arteterapia

O mérito do cuidador é se apropriar de algumas técnicas e saber como aplicá-las de modo que aquele material ou prática tornem-se interlocutores de sua relação terapêutica e do que moverá aquele interagente para a transformação. Mais do que se apropriar de técnicas é saber moderá-las, é saber não ser técnico quando não se precisa.

Já dizia brilhantemente Manuel Bandeira em POÉTICA: […]”sou técnico, mas só tenho técnica dentro da técnica, fora isso, sou completamente louco” .

Para mim, o profissional em Arteterapia deve antes de tudo querer brincar, se transformar no que o cliente deseja que você seja naquele momento, se isso lhe ajudar a resolver suas questões, dentro dos limites estabelecidos entre ambos.

Ele deve entender de mitos, atentar aos relatos de sonhos, pesquisar sobre os interesses daquele interagente, seja um filme, autor, banda, esporte ou desenho animado. Quanto mais sua linguagem se aproximar da linguagem daquele que está ali na sua frente, confiando a ti seus anseios e dificuldades, maiores serão as chances de adentrar ao seu mundo subjetivo.

Tintas, linhas e agulhas, lápis coloridos, papéis diversos, argila, terra, velas, pedras, fotografias, livros, histórias, contos, mitos, instrumentos musicais, músicas, danças, encenações teatrais e vídeos são alguns exemplos dos infindos instrumentos de trabalho de um Arterapeuta.

Um pouco mais sobre Arteterapia

Se você deseja saber mais sobre o universo vasto da Arteterapia, ao final do post coloco alguns links de sites que contém artigos, indicações de profissionais e cursos para quem deseja se tornar Arteterapeuta ou apenas beber um pouco da fonte…

Arteterapia é técnica, é estudo, é compromisso, responsabilidade, é magia, alquimia, encanto, excitação. É fincar os pés na realidade sem deixar que suas asas toquem o céu.

E para finalizar, deixo aqui sábias palavras do mesmo poema citado anteriormente e por fim um dos meus poemas, pois não poderia deixar de me exibir em meu mais novo ofício!

*Trecho de POÉTICA de Manuel Bandeira

“Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos Clowns de Shakespeare
Não quero mais saber deste lirismo que NÃO é
LIBERTAÇÃO”

POETA
(Ana Carolina Arruda)

Ser poeta é tocar corações jamais vistos
É acariciar almas sedentas de acalentos
É entregar palavras eternamente aos quatro ventos e sorrir
Sim, sorrir porque frases voam andarilhas nos tempos
E fingindo-se perdidas vão certeiras emprestando-se aos sujeitos

Vai-te poesia!
E liberte-se nos ventos sorridentes deste dia
Verei que chegarás como beija-flor em néctares sutis que te receberão como mais que visita bem-vinda…
esperada

Vai-te poesia e jamais retorne a mim porque não mais te tenho
Nunca te tive
Apenas te recebi em meu corpo, te esculpi em meus dedos e te soprei em meus lábios
És agora semente fecunda nas almas

Links Importantes

  • www.ubaat.org – Site da União Brasileira das Associações de Arteterapia. Além de informações sobre Arteterapia conta com uma grande lista dos sites de entidades filiadas à UBAAT no Brasil inteiro, facilitando o acesso à informações na região mais próxima de você.
  • www.centrodearteterapia.blogspot.com.br  – Centro Integrare coordenado com muita responsabilidade e foco por Danielle Bittencourt no Rio de Janeiro. Foi o Centro onde realizei minha formação. O blog contém diversos artigos interessantes além da divulgação de cursos
  • www.alquimyart.com.br – Centro presidido pela Arteterapeuta Cristina Allessandrini, profissional muito reconhecida da área. O site contem artigos, publicações, informações sobre cursos, especialização e pós-graduação em cidades como São Paulo, Goiânia, Aracaju e Natal.
  • www.ceuaum.org.br/cursos/pos-graduacao.htm – Centro de estudos Universais filiado à Universidade Anhembi Morumbi em SP, que oferece pós-graduação em Arte Integrativa, cuja qualidade docente é excelente.
  • www.incorporarte.psc.br  – Centro Incorporarte no Rio de Janeiro que oferece também cursos em Curitiba e Florianópolis. No site encontram-se publicações e artigos bastante ricos e dinâmicos sobre diversos campos de atuação Arteterapêutica.
  • www.sab.org.br/med-terap/terap-art – Se você se identifica e se interessa pela Antroposofia de Rudolf Steiner, a terapia artística será uma ótima opção.

*Photo Credit: YannGarPhoto via Compfight cc


*Ana Carolina de Arruda é Naturóloga, Arteterapeuta, Terapeuta Corporal e Poeta ainda nas horas vagas. Decidiu não ser publicitária acreditando que sua profissão poderia ser uma extensão de seus valores e hábitos pessoais. Atualmente reside no Rio de Janeiro onde realiza trabalhos individuais e em grupo com crianças e adultos. Acesse o blog www.natunorio.blogspot.com

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Fotografia | 5 Dicas básicas para iniciantes

Agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura. Inspiradas em tanta criatividade, reunimos algumas luluzinhas para falar nos próximos dias do relacionamento delas, com a arte e a cultura. Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp. Hoje, como não poderia deixar de ser, o assunto é fotografia. Divirtam-se!

 

Pés de bebê / Vera Papini Fotografia - flickr
Pés de bebê / Vera Papini Fotografia – flickr

Oi gente, tudo bom? Meu nome é Vera*, sou fotógrafa, cat-lady, um pouco de dançarina e apaixonada pela vida.

Comecei a fotografar quando eu tinha uns 3 anos. E é sério isso. Meus pais ficavam malucos com a quantidade de filme que eu gastava. Ganhei minha primeira câmera, uma besta, daquelas compactas de viagem, quando eu tinha 9 anos. Desde então a coisa nunca mais foi a mesma!

Com a vida, além dos estudos, eu aprendi alguns macetes extremamente básicos, mas que ajudam muito a quem não sabe nadica de nada.

Eles são:

1 – Enquadramento. Claro que o clássico, a pessoa no meio, do tronco pra cima sempre funciona, mas tente fazer isso: Faça um enquadramento com a pessoa de canto, mais céu. Fica com uma cara de wallpaper, mas fica bonito, deixa de ser clichê. Outra coisa é: em fotos de grupo sempre tire foto com um pouco mais de teto que o costume. Parece estranho, mas deixa mais interessante.

2 – Anote. Eu tenho mania de meter o dedo na câmera para tirar MUITAS fotos seguidas. E sempre no caminho pra casa vou anotando o numero das fotos que eu acho que ficaram melhores e deletando as tortas e tremidas. Em casa fica muito mais fácil achar e fazer uma edição rápida.

3 – Cuidado com o flash. Conseguir VER a foto é sempre bom, mas ter flash demais (ainda mais flash direto) sempre deixa com um jeito amador demais. Não deixe o flash no automático. Deixe sem. Tire uma foto sem flash pra ver se fica bom, se tem luz, se tem contraste bonitinho. Deu certo, manda bala sem flash. Mas cuidado, sem flash as fotos tendem a sair mais tremidas. Tenha mão firme nessa hora. Na contra luz use flash sim. Acaba ficando bonito porque você ilumina o objeto e a luz do fundo preenche a cena. Outro jeito bacana de usar o flash é rebater ele numa parede ou teto. Assim o seu objeto fotografado não fica com uma luz muito dura ou com sombras e o ambiente se preenche de luz!

4 – Cuidado com a sua altura.Você já viu fotos de pessoas atarracadas mas que você sabe que são normais ou até altas? Isso acontece por causa da altura do fotógrafo. Um fotografo muito alto deixa as pessoas mais baixas atarracadinhas, e um mais baixo deixa todo mundo meio altão. Tente regularizar sua linha de horizonte com a da pessoa fotografada. Claro que outros ângulos devem ser explorados, estou falando de retrato e fotos sociais.

5 – Experimente, passeie e procure. Saia com a câmera na mão, procure coisas interessantes, ângulos novos, pessoas exóticas, casais, animais, qualquer coisa que te inspire. Fotografe eventos de rua (mas vá acompanhado e cuidado com sua câmera!), sua mãe, sua cozinha, suas miniaturas. Fotografe temas diversos, de paisagem até coisas em macro. E o mais importante. SE DIVIRTA fazendo isso!

Espero que gostem.


*Vera Papini é amante da fotografia desde sempre. Quando adolescente era quem garantia o registro dos encontros. Formação técnica em Propaganda e Publicidade pela FECAP , no SENAC iniciou com o Curso Básico e depois bacharelado em fotografia. Trabalha com registros de festas (infantis e adultas), eventos corporativos, books e fotografia de alimentos e produtos. Saiba mais no www.verapapini.com e  flickr.com/vehzitah

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Vem aí, a semana de arte e cultura do LuluzinhaCamp

Entre os dias 19 e 23 de agosto, teremos por aqui uma semana dedicada à arte e cultura. Com textos de lulu para lulu, bem no estilo Luluzinha Camp de ser e viver, compartilhando dicas e informações sobre o temas mais variados. Afinal de contas, agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura.

cachorro colorido - imagem See-ming Lee SML no flickr
Dia 12/08 tivemos o Dia Nacional das Artes. Arte, que por sua função pura e simples, tem seu quê de poesia e divagação. Encantando através de expressões artísticas que apresentam-se sob variadas formas: artes plásticas, música, escultura, cinema, teatro, dança, entre outras.

No dia 19/08 teremos o Dia Mundial da Fotografia, data que comemoramos o dia em que a Academia de Ciências da França consagrou em 1839 o daguerreótipo, invento de Louis M. Daguérre.

Na mesma data, 19/08, também é comemorado o Dia do Artista de Teatro, uma homenagem ao ator, mas não só ele, e também todos aqueles que trabalham nesta arte. Autores, diretores, iluminadores, sonoplastas, figurinistas… Todos aqueles que estão envolvidos, de alguma forma, no processo de representar perante o público.

E finalizando as homenagens de agosto, 24/08 é Dia dos Artistas, ou seja, todo aquele que dedica sua vida ou parte dela à arte, seja ela de forma escrita, encenada, pintada, fotografada, esculpida ou de qualquer outra forma que deseje expressá-la.

Inspiradas em tanta criatividade, na próxima semana reuniremos algumas luluzinhas para compartilhar conosco um pouco do relacionamento delas, com a arte e a cultura.

Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto.

Aguardem!


*Photo Credit: See-ming Lee ??? SML via Compfight cc

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Desabafos sobre os protestos

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Nota da editora: eu tenho orgulho, muito, de ter criado um grupo onde as mulheres podem se expressar de forma sincera e clara. Me emociona testemunhar exemplos de humanidade na minha vida cotidiana. Por isso pedi licença para publicar estes textos aqui. São testemunhos que contam o quanto o Brasil ainda pode mudar, se transformar e ser um lugar melhor para viver. 

Suzana Elvas, Rio de Janeiro

Escrevi esse texto (e já peço desculpas pelo desabafo, porque é isso que ele é) e compartilhei no Facebook por causa de uma coisa que a Lucia postou na TL dela. Eu acompanhei até as 3h da manhã de hoje o que estava acontecendo, literalmente, embaixo da minha janela. Chorei muito, tive medo, filmei bastante, e me lembrei de cenas que eu um dia dissera a mim mesmo nunca mais presenciar.

Por um bom tempo – incluindo quando eu era uma estagiária cheia de bons sentimentos e a caminho do meu Prêmio Esso – eu acompanhei incursões policiais. Não era nem do Rio, mas me oferecia pra qualquer plantão policial que aparecesse. Achava muito emocionante. E o que eu aprendi não foi excitante, nem emocionante. Não foi bonito, não foi construtivo. Eu vi policial derrubar porta de gente que nunca teve nada com o tráfico, e arrastar mulheres pelos cabelos até uma viela, de onde só se ouvia gritos e crianças chorando. Vi descer rapaz morto pelo Bope que estava fumando escondido da mãe na laje, se assustou e tomou um tiro no peito sem nem saber direito o que estava acontecendo.

Vi chamarem de vadia a mãe que perdeu mais um filho num tiroteio – e se soube depois que era um contínuo que o chefe prendera depois do horário pra que ele fizesse serviços pessoais. Ouvi mandarem calar a boca e parar com essa porra. PM’s impacientes com crianças chorando, no meio do fogo cruzado. Ouvi pelo celular a faxineira do lugar onde eu trabalhava avisar, a voz quase inaudível pela balbúrdia de tiros que ecoavam no único banheiro da casa, que ela não ia trabalhar porque não podia sair. Nem sequer tirar dali a única filha, de seis anos, nem o bebê que levava na barriga.

Nunca vi nenhum mídia ninja por perto. Nenhuma mídia alternativa. Das grandes, o que era apurado e escrito em quatro laudas saía – quando saía – num quadradinho com sete linhas, pra tapar buraco na página. Nunca vi, nesses anos todos em que o celular existe e se popularizou, vídeo do YouTube mostrando o domínio do terror que a PM impôs nas comunidades que “não pagam imposto” (e, sim, eles pagam). Nunca vi ninguém gravar o Bope, tarde da noite, ajoelhado nas esquinas da Maré, pronto pra entrar atirando – coisa que eu vi, de dentro do táxi, voltando de uma viagem, enquanto o motorista alcançava quase 180 Km/h e avisava aos outros pelo rádio que “o bicho tá pegando”. Se existem esses vídeos, nunca vi serem compartilhados. Nunca vi receberem centenas de comentários. Nunca vi sendo usados como meio de pressão para disciplinar uma força policial que segue tudo, menos a lei. Efetivo que, se conhece a lei, prefere ignorá-la, com o respaldo de quem dorme à noite sem se preocupar se alguém vai enfiar o pé na sua porta, de madrugada, e arrastar seus filhos pra fora, aos gritos. Porque ninguém vai. Se isso acontecer, com certeza estará em centenas de compartilhamentos no Facebook em questão de horas, com respaldo de inúmeros vídeos no YouTube.

As chacinas de Vigário Geral e da Candelária chocaram (não acredite na gente, leia no site da Anistia Internacional: Anistia Internacional – Chacina de Vigário Geral) . Todo mundo indignou-se – e nada mudou. Não vi página do Facebook dar nome e sobrenome do Jonatha Farias da Silva , o garoto que morreu assassinado na Maré e cuja única voz que se levantou para que ele não ficasse marcado como “elemento que foi baleado ao confrontar a PM com arma na mão” (como consta nos relatórios da Polícia Militar) foi Yvonne Bezerra de Mello, que o ajudou a sobreviver, sem pai nem mãe, como engraxate. Ela não esqueceu os meninos da Candelária, nem as famílias de Vigário Geral. Deve ser a única. Ninguém perguntou – nem a OAB, nem a ABI, nem os Ninjas, nem ninguém: “Onde está o assassino de Jonatha? Onde está o inquérito policial? Onde está a Justiça? Onde está a ordem publica e a garantia de que isso nunca mais vai acontecer?”

Mas eu vi um monte de gente falando do absurdo das balas de borracha. Do absurdo do gás lacrimogêneo que acabou com a roda de chope, com o jantar, com a paz. Do absurdo das vitrines quebradas no pedaço mais rico da cidade. Do absurdo dos garotos brancos, de classe média, universitários, bem alimentados e bem informados, que foram presos por “mostrar a verdade.” Sei nome e sobrenome de todos eles. Bastaram menos que cinco noites de terror para o Rio de Janeiro se levantar contra a truculência da PM. Contra os desmandos do policial que prende mídia ninja porque este lhe virou as costas. Que encurrala mulheres e crianças numa loja e exige documentos. Que percorre as ruas caçando quem esteja nas calçadas.

Troque as balas de borracha por munição real. Troque os bairros da Zona Sul pelas favelas e pela Baixada. Troque a cor da pele das pessoas.

Bem-vindo ao Rio de Janeiro de todos os tempos.

 

Gabriela (@gabriela_arc), Salvador

Bem vindo ao Brasil de todos os tempos. Este é o cenário daqui da Bahia também. Não sou jornalista, mas já testemunhei algumas coisas e passei por outras também e confesso há muito tempo vivemos em estado de sítio. A diferença: Rio, SP aparecem na TV. Morre mais gente em Simões Filho que no Iraque, quando saiu na Exame, saiu em noticiários locais. A violência em Simões Filho, Candeias e outras cidades de interior é terrível. Assim como, a violência na Zona Sul é cruel mas lamentavelmente só aparecem os pontos turísticos.

Felizmente estão acontecendo protestos e principalmente há reportagens internacionais incompatíveis aos principais veículos, para capitanear a mudança que pode vir em outubro. Não podemos nos calar.

Até quando continuaremos a aceitar o medo?!

 

Letícia Massula, São Paulo

Suzana,

Eu quase nunca falo nada aqui, participo pouco (não consigo administrar meu tempo a ponto de poder participar de uma lista assim, me perco sempre…) e por conta disso muitas vezes não acho legítimo nem ler as conversas, mas estou muito perturbada com tudo que vem acontecendo no Rio e li seu texto.

Parabéns. Um alento ver gente que pensa como você. Que vai além e coloca o dedo na ferida.

Coordenei durante 2 anos um centro para familiares de vitimas de homicídio e latrocínio e o que mais me doía – além de assistir cotidianamente a dor de mães que perderam violentamente seus filhos (quase a totalidade pobres de periferia, um numero enorme executados pela polícia) – era assistir a indiferença da sociedade, o descaso, a falta de identificação… Milhares de vezes me afirmaram em tom de pergunta: mas… quem morre em chacina… em geral tem culpa no cartório, não é mesmo?

Doía cada vez que alguém, para legitimar a nossa atuação (apoio as vítimas e familiares), destacava que eram vítimas “inocentes” (aliás, tem expressão mais bizarra que “morte de inocentes”?). Me embrulhava o estômago ver que a maior parte das pessoas pensava exatamente assim…

Eu ficava puta cada vez que me chamavam para mesas de debate para falar “sobre o aumento da violência urbana” quando morria alguém de classe média, voltando da faculdade, de carro, no semáforo… Eu sempre frisava nessas falas que não havia aumento da violência, que ela sempre esteve lá… que morria gente todo dia na periferia (e pensava comigo: de vez em quando a merda chega até nós, e morre um da classe média).

Doía sentir que mesmo entre pessoas relativamente próximas no fundo, no fundo, havia um certo alívio a cada chacina, uma sensação de “que bom que eles se matam entre eles mesmos”, quanto mais se matarem nas margens, melhor… que fiquem lá, nas margens mesmo… que nunca cheguem aqui, ao centro.

Não estou de forma alguma comparando e desqualificando uma morte e outra morte… sofro pelo jovem de classe média que morre no sinaleiro da mesma forma que sofro pelo jovem da favela executado pela polícia (seja ele portador de bons ou maus antecedentes). Para mim cada vez que morre alguém violentamente um pouco da minha humanidade morre junto, porque sempre é um passo a mais rumo ao animal cruel que nos habita.

Nesses dias com tudo que estamos assistindo esse ponto voltou a ficar latente. Observar novamente que a maior parte das pessoas distingue, compara e faz um julgamento moral sobre quem “merece” e quem “não merece” morrer. Que vida e morte continua a ser uma questão meritória na cabeça das pessoas, como se a vida não fosse um direito humano e sim um bônus por bom comportamento.

Acho que foi mais ao menos por aí que um dia eu decidi que não iria mais trabalhar com direitos humanos, para não ter que lidar com isso no cotidiano. Não consigo ter tranquilidade para falar sobre isso, para argumentar de forma civilizada, me toca muito fundo.

Por tudo isso, adorei seu texto, continue expondo as feridas. É necessário. Parabéns.