Categorias
Notícias

#FESTIVOTE reúne iniciativas que buscam melhorar as eleições de 2018

Urna Eletrônica Brasileira

É impossível ignorar a sensação de descrédito no Brasil com relação à política e às eleições deste ano. Buscando uma melhora desse cenário, domingo (dia 19), acontece na Casa Baixo Augusta em São Paulo o inédito FESTIVOTE 2018. O festival terá uma tarde inteira de palestras, vivências e oficinas apresentadas por iniciativas da sociedade civil que têm como objetivo melhorar a democracia brasileira e, ainda dá tempo, as eleições de outubro. O evento é gratuito. Para participar, é necessário se inscrever através do link: http://bit.ly/Inscricao-FestiVote

 

A sociedade civil brasileira tem criado iniciativas relevantes para melhorar a experiência do cidadão, no exercício de seu papel enquanto eleitor, com o objetivo de qualificar a corrida eleitoral em seus mais diversos aspectos. O FESTIVOTE irá reunir essas ações. Vale destacar que se serão apresentadas apenas iniciativas idealizadas e executadas por organizações da sociedade civil. Ou seja, não será palanque para candidatos(as) ou partidos, nem para qualquer outro tipo de interesse privado. O foco é a utilidade pública, a garantia de que cada um(a) de nós encontre inspiração para mudar a forma de encarar a política, as eleições e este momento decisivo no Brasil.

O LuluzinhaCamp emparceirou com o projeto ElaCandidata. Nossa grande plataforma em 2018 será mulher vota em mulher. Principalmente para as casas legislativas. Precisamos de mulheres quebrando o domínio homem, cis, branco e velho fazendo leis que não nos protegem, não nos favorecem e ainda nos levam de volta ao início do século XX (quando não tínhamos nem direito a voto, vale lembrar).

Somos 52% do eleitorado. Somos quem vai definir a eleição. Vamos nos informar e garantir uma democracia forte e diversa.

 

Abaixo, um pouco do que vai estar na programação:

14h30 – A era dos matches: como encontrar os candidatos(as) dos seus sonhos [RODA DE CONVERSA]

Bússola Eleitoral

Voz Ativa

#Merepresenta

#TemMeuVoto

 

15h – Quem não está lá: a representatividade através do voto [PAINEL]

Blogueiras Negras

Gênero e Número

#VoteLGBT

#VoteNelas

 

15h30 – De olho nas leis: o papel dos cidadãos no monitoramento do legislativo [RODA DE CONVERSA]

O poder do voto

Painel do Legislativo

 

16h30 – Prometeu tem que cumprir! Estratégias para demandar compromissos dos candidatos [RODA DE CONVERSA]

Plataforma Brasileira de Política de Drogas

#NãoValeTudo

Unidos Contra a Corrupção

Desenvolvimento para Sempre

 

17h20 – Contra dados não há argumentos: o combate à desinformação [PAINEL]

Eleições sem Truque

Comprova

Você na Mira

 

17h30 – Eleições e partidos: reformas para aprofundar a democracia [RODA DE CONVERSA]

Plataforma dos movimentos sociais pela reforma do sistema político

Fórum Brasileiro de Candidaturas Coletivas

Centro de Liderança Pública (CLP)

Movimento Transparência Partidária

 

A programação completa estará disponível no site: https://www.pactopelademocracia.org.br/festivote

 

:: SERVIÇO ::

Data: 19/08 (domingo)

Horário: 14h até 20h

Local: Casa do Baixo Augusta, Rua Rêgo Freitas, 553, República, São Paulo.

 

Sobre o Pacto pela Democracia

O Pacto pela Democracia é uma iniciativa da sociedade civil brasileira voltada à defesa da preservação e do revigoramento da vida política e democrática no país. Formado a partir da ação de um arco amplo e plural de 73 organizações atualmente, movimentos e atores comprometidos com esse objetivo fundamental, o Pacto busca afirmar um espaço comum para a expressão desse compromisso por todos identificados com ele. Também para a soma de esforços para sustentá-lo e impulsioná-lo diante do momento desafiador vivido pelo país. Cidadãos, organizações e políticos podem participar. Saiba mais: www.pactopelademocracia.org.br/participe .

Foto: Wikimedia

Categorias
Notícias

Ah, a meritocracia

renata correa

Simples assim: a Babi Maués levou uma discussão para o grupo sobre meritocracia e classe média. E em resposta aos questionamentos, a Renata Corrêa escreveu uma resposta sensacional. Que nós pedimos (e ela deixou) para compartilhar aqui no site!

A Iara Paiva tem um texto lindo sobre o Mais Médicos onde ela fala de meritocracia.

Eu não sei se concordo que o problema da classe média, seu reacionarismo e crueldade venham da crença na meritocracia. Mas a meritocracia é uma grande questão.

Eu não acredito em meritocracia num país desigual. A meritocracia funcionaria pratica, filosofico e socialmente se todos partíssemos do mesmo lugar. Esse “mesmo lugar” é uma utopia. Esse “mesmo lugar” não existe. Ainda se vivêssemos em um mundo que privilegiasse a oportunidade igual para todos ainda sim esse mundo contaria com indivíduos com habilidades e fragilidades diferentes entre si. Então para mim a meritocracia é uma dessas mentiras que gostamos de acreditar.

Claro que com isso não quero dizer que as pessoas não mereçam o que conseguem com o seu esforço dedicando seu tempo, seu dinheiro, priorizando um “correr atrás”. Claro que elas merecem. Mas achar que o seu merecimento está descolado de questões sociais, raciais e de gênero é míope. É como a Fernanda Lima falando “só porque sou branquinha” – é claro que ela merece ser apresentadora do sorteio da copa. Ela é atriz, famosa, bonita, tem expertise em apresentações, se dedicou muito para estar na posição de estrelato que ocupa. Então só porque ela é branquinha ela não pode? Pode, claro que pode. Mas porque a Camila Pitanga não pode se ela também é uma estrela, tem expertise em apresentações e é atriz, famosa e bonita e se dedicou muito para estar na posição de estrelato que ocupa? Méritos semelhantes, mas resultados diferentes.

Sempre que tenho um dilema social eu penso no mundo que eu quero que a Liz encare na sua vida. Eu preferia que ela vivesse num mundo de direitos e deveres iguais muito menos do que num mundo meritocrático. Um mundo onde ela precisasse ser avaliada o tempo inteiro para merecer o que deveria ser de direito não me parece um mundo bom e justo.

Renata Corrêa é roteirista, mãe da Liz, companheira do Gabriel. Está no LuluzinhaCamp a tempos. Participa do FemMaterna e do Blogueiras Feministas, além de outros grupos pela rede afora. Seu blog está, no momento, fora do ar. E é uma amiga linda de viver.

Foto: Gabi Butcher – Diapositivo Fotografia

Categorias
Notícias

Desabafos sobre os protestos

2277741078_546a418e9f

Nota da editora: eu tenho orgulho, muito, de ter criado um grupo onde as mulheres podem se expressar de forma sincera e clara. Me emociona testemunhar exemplos de humanidade na minha vida cotidiana. Por isso pedi licença para publicar estes textos aqui. São testemunhos que contam o quanto o Brasil ainda pode mudar, se transformar e ser um lugar melhor para viver. 

Suzana Elvas, Rio de Janeiro

Escrevi esse texto (e já peço desculpas pelo desabafo, porque é isso que ele é) e compartilhei no Facebook por causa de uma coisa que a Lucia postou na TL dela. Eu acompanhei até as 3h da manhã de hoje o que estava acontecendo, literalmente, embaixo da minha janela. Chorei muito, tive medo, filmei bastante, e me lembrei de cenas que eu um dia dissera a mim mesmo nunca mais presenciar.

Por um bom tempo – incluindo quando eu era uma estagiária cheia de bons sentimentos e a caminho do meu Prêmio Esso – eu acompanhei incursões policiais. Não era nem do Rio, mas me oferecia pra qualquer plantão policial que aparecesse. Achava muito emocionante. E o que eu aprendi não foi excitante, nem emocionante. Não foi bonito, não foi construtivo. Eu vi policial derrubar porta de gente que nunca teve nada com o tráfico, e arrastar mulheres pelos cabelos até uma viela, de onde só se ouvia gritos e crianças chorando. Vi descer rapaz morto pelo Bope que estava fumando escondido da mãe na laje, se assustou e tomou um tiro no peito sem nem saber direito o que estava acontecendo.

Vi chamarem de vadia a mãe que perdeu mais um filho num tiroteio – e se soube depois que era um contínuo que o chefe prendera depois do horário pra que ele fizesse serviços pessoais. Ouvi mandarem calar a boca e parar com essa porra. PM’s impacientes com crianças chorando, no meio do fogo cruzado. Ouvi pelo celular a faxineira do lugar onde eu trabalhava avisar, a voz quase inaudível pela balbúrdia de tiros que ecoavam no único banheiro da casa, que ela não ia trabalhar porque não podia sair. Nem sequer tirar dali a única filha, de seis anos, nem o bebê que levava na barriga.

Nunca vi nenhum mídia ninja por perto. Nenhuma mídia alternativa. Das grandes, o que era apurado e escrito em quatro laudas saía – quando saía – num quadradinho com sete linhas, pra tapar buraco na página. Nunca vi, nesses anos todos em que o celular existe e se popularizou, vídeo do YouTube mostrando o domínio do terror que a PM impôs nas comunidades que “não pagam imposto” (e, sim, eles pagam). Nunca vi ninguém gravar o Bope, tarde da noite, ajoelhado nas esquinas da Maré, pronto pra entrar atirando – coisa que eu vi, de dentro do táxi, voltando de uma viagem, enquanto o motorista alcançava quase 180 Km/h e avisava aos outros pelo rádio que “o bicho tá pegando”. Se existem esses vídeos, nunca vi serem compartilhados. Nunca vi receberem centenas de comentários. Nunca vi sendo usados como meio de pressão para disciplinar uma força policial que segue tudo, menos a lei. Efetivo que, se conhece a lei, prefere ignorá-la, com o respaldo de quem dorme à noite sem se preocupar se alguém vai enfiar o pé na sua porta, de madrugada, e arrastar seus filhos pra fora, aos gritos. Porque ninguém vai. Se isso acontecer, com certeza estará em centenas de compartilhamentos no Facebook em questão de horas, com respaldo de inúmeros vídeos no YouTube.

As chacinas de Vigário Geral e da Candelária chocaram (não acredite na gente, leia no site da Anistia Internacional: Anistia Internacional – Chacina de Vigário Geral) . Todo mundo indignou-se – e nada mudou. Não vi página do Facebook dar nome e sobrenome do Jonatha Farias da Silva , o garoto que morreu assassinado na Maré e cuja única voz que se levantou para que ele não ficasse marcado como “elemento que foi baleado ao confrontar a PM com arma na mão” (como consta nos relatórios da Polícia Militar) foi Yvonne Bezerra de Mello, que o ajudou a sobreviver, sem pai nem mãe, como engraxate. Ela não esqueceu os meninos da Candelária, nem as famílias de Vigário Geral. Deve ser a única. Ninguém perguntou – nem a OAB, nem a ABI, nem os Ninjas, nem ninguém: “Onde está o assassino de Jonatha? Onde está o inquérito policial? Onde está a Justiça? Onde está a ordem publica e a garantia de que isso nunca mais vai acontecer?”

Mas eu vi um monte de gente falando do absurdo das balas de borracha. Do absurdo do gás lacrimogêneo que acabou com a roda de chope, com o jantar, com a paz. Do absurdo das vitrines quebradas no pedaço mais rico da cidade. Do absurdo dos garotos brancos, de classe média, universitários, bem alimentados e bem informados, que foram presos por “mostrar a verdade.” Sei nome e sobrenome de todos eles. Bastaram menos que cinco noites de terror para o Rio de Janeiro se levantar contra a truculência da PM. Contra os desmandos do policial que prende mídia ninja porque este lhe virou as costas. Que encurrala mulheres e crianças numa loja e exige documentos. Que percorre as ruas caçando quem esteja nas calçadas.

Troque as balas de borracha por munição real. Troque os bairros da Zona Sul pelas favelas e pela Baixada. Troque a cor da pele das pessoas.

Bem-vindo ao Rio de Janeiro de todos os tempos.

 

Gabriela (@gabriela_arc), Salvador

Bem vindo ao Brasil de todos os tempos. Este é o cenário daqui da Bahia também. Não sou jornalista, mas já testemunhei algumas coisas e passei por outras também e confesso há muito tempo vivemos em estado de sítio. A diferença: Rio, SP aparecem na TV. Morre mais gente em Simões Filho que no Iraque, quando saiu na Exame, saiu em noticiários locais. A violência em Simões Filho, Candeias e outras cidades de interior é terrível. Assim como, a violência na Zona Sul é cruel mas lamentavelmente só aparecem os pontos turísticos.

Felizmente estão acontecendo protestos e principalmente há reportagens internacionais incompatíveis aos principais veículos, para capitanear a mudança que pode vir em outubro. Não podemos nos calar.

Até quando continuaremos a aceitar o medo?!

 

Letícia Massula, São Paulo

Suzana,

Eu quase nunca falo nada aqui, participo pouco (não consigo administrar meu tempo a ponto de poder participar de uma lista assim, me perco sempre…) e por conta disso muitas vezes não acho legítimo nem ler as conversas, mas estou muito perturbada com tudo que vem acontecendo no Rio e li seu texto.

Parabéns. Um alento ver gente que pensa como você. Que vai além e coloca o dedo na ferida.

Coordenei durante 2 anos um centro para familiares de vitimas de homicídio e latrocínio e o que mais me doía – além de assistir cotidianamente a dor de mães que perderam violentamente seus filhos (quase a totalidade pobres de periferia, um numero enorme executados pela polícia) – era assistir a indiferença da sociedade, o descaso, a falta de identificação… Milhares de vezes me afirmaram em tom de pergunta: mas… quem morre em chacina… em geral tem culpa no cartório, não é mesmo?

Doía cada vez que alguém, para legitimar a nossa atuação (apoio as vítimas e familiares), destacava que eram vítimas “inocentes” (aliás, tem expressão mais bizarra que “morte de inocentes”?). Me embrulhava o estômago ver que a maior parte das pessoas pensava exatamente assim…

Eu ficava puta cada vez que me chamavam para mesas de debate para falar “sobre o aumento da violência urbana” quando morria alguém de classe média, voltando da faculdade, de carro, no semáforo… Eu sempre frisava nessas falas que não havia aumento da violência, que ela sempre esteve lá… que morria gente todo dia na periferia (e pensava comigo: de vez em quando a merda chega até nós, e morre um da classe média).

Doía sentir que mesmo entre pessoas relativamente próximas no fundo, no fundo, havia um certo alívio a cada chacina, uma sensação de “que bom que eles se matam entre eles mesmos”, quanto mais se matarem nas margens, melhor… que fiquem lá, nas margens mesmo… que nunca cheguem aqui, ao centro.

Não estou de forma alguma comparando e desqualificando uma morte e outra morte… sofro pelo jovem de classe média que morre no sinaleiro da mesma forma que sofro pelo jovem da favela executado pela polícia (seja ele portador de bons ou maus antecedentes). Para mim cada vez que morre alguém violentamente um pouco da minha humanidade morre junto, porque sempre é um passo a mais rumo ao animal cruel que nos habita.

Nesses dias com tudo que estamos assistindo esse ponto voltou a ficar latente. Observar novamente que a maior parte das pessoas distingue, compara e faz um julgamento moral sobre quem “merece” e quem “não merece” morrer. Que vida e morte continua a ser uma questão meritória na cabeça das pessoas, como se a vida não fosse um direito humano e sim um bônus por bom comportamento.

Acho que foi mais ao menos por aí que um dia eu decidi que não iria mais trabalhar com direitos humanos, para não ter que lidar com isso no cotidiano. Não consigo ter tranquilidade para falar sobre isso, para argumentar de forma civilizada, me toca muito fundo.

Por tudo isso, adorei seu texto, continue expondo as feridas. É necessário. Parabéns.

Categorias
Notícias

Reconstruindo a democracia no Brasil – um plano de cinco ações

Depois de semanas de protestos em todo o país, a presidenta Dilma Rousseff finalmente anunciou sua resposta. Após encontro com manifestantes, ela anunciou a intenção de um plebiscito cujo mote é uma reforma política no país, além de um pacto que em seu bojo inclui cinco promessas para o povo brasileiro. O pacto se concentra em cinco áreas – reforma política, responsabilidade fiscal, além de investimentos adicionais nas áreas da saúde, transporte e educação.

Dilma ofereceu ao povo a oportunidade de decidir como a reforma deve ser realizada, através de um plebiscito – isso provavelmente dará alguma chance ao povo de usar o voto para direcionar e priorizar a atenção dos políticos.

Mesmo após este anúncio, os manifestantes continuaram com os protestos, dizendo que as propostas da presidenta são desprovidas de medidas concretas. Isso não é nenhuma surpresa: o problema, na verdade, é que um verdadeiro impasse entre o governo e o povo foi estabelecido.

Os manifestantes – e os cidadãos em geral – querem resultados imediatos. Para a presidenta oferecer um plebiscito e imediatamente “achar” bilhões de reais para a saúde, educação e melhorias no transporte público não deve ter sido fácil, mas mesmo assim é uma solução que existe dentro das regras da política que conhecemos hoje.

É fato que o povo brasileiro está farto de promessas. E mesmo os partidários de Dilma querem ouvir algo que vá além de chavões políticos. A presidenta precisa encontrar algo mais concreto para oferecer à população rapidamente – porque a revolução está, genuinamente, no ar.

O exército já até colocou o juiz Joaquim Barbosa sob a sua asa. Proteção constante foi oferecida para assegurar que nada irá acontecer com ele, o qual, por sinal, é muito popular por conta de sua origem humilde e do papel fundamental que teve no Mensalão. Tanto isso é verdade, que muitos estão sugerindo que ele deve ser o próximo presidente – sem nem se preocupar em esperar a próxima eleição presidencial no ano que vem.

Barbosa não declarou querer ser o novo líder de um governo militar. Mas o problema é que as pessoas querem uma mudança a qualquer custo – prova disso são os milhares de brasileiros que protestam nas redes sociais e nas ruas, que parecem querer dizer que um governo militar seria a melhor opção – e eles podem muito bem estar caminhando cegamente em direção a um novo Brasil, onde a democracia será apenas uma memória.

Até agora, houve três décadas de democracia, mas o nosso sistema, como é hoje, nada mais é do que uma fonte interminável de exasperação diária. A maioria dos nossos líderes políticos parecem ser ricos, ou bem relacionados, ou terem parentes em alguma posição de poder. Não é possível que uma plutocracia de fato exista, em que ricos e pobres têm apenas um único voto obrigatório, quando os pobres são marginalizados e desiludidos e só os ricos podem sempre obter o que querem.

Será que o sistema político do Brasil precisa de um choque?

Acredito que algum tipo de choque seja necessário, mas querer o impeachment de Dilma Rousseff é demais! Aliás, já existe um sistema para substituir políticos com os quais o povo está insatisfeito – eleições. O presidente Fernando Collor de Mello foi cassado em 1992 após protestos populares, mas isso foi devido a evidências de corrupção e desvio de fundos do Governo. Ele era um bandido, e não apenas um líder impopular.

O que Dilma poderia oferecer ao povo para acabar com essa desinformação, desconfiança e protestos sem fim? Em vez de um pacto com cinco promessas vagas, sugiro aqui cinco ações muito claras e diretas que podem ser colocadas em prática imediatamente:

1. A presidenta sugeriu um plebiscito para decidir sobre as prioridades para o país. Esta é uma ideia que deve ser introduzida para tratar de TODAS as grandes decisões que afetam a sociedade civil, e as pessoas devem decidir diretamente sobre a solução de problemas que afetam a sociedade em geral, tais como o polêmico Estatuto do Nascituro, ou lei do aborto, ao invés de deixar as decisões nas mãos de um grupo de políticos que podem não representar as necessidades da sociedade como um todo.

A política formal brasileira está recheada de grupos de interesse, particularmente cristãos e evangélicos. Ninguém negará a qualquer pessoa o direito de ter sua religião, mas há ocasiões em que é difícil confiar na democracia representativa devido aos políticos serem associados a um grupo de interesses específicos.

Se o público pode tomar decisões sobre questões sociais com um plebiscito em que todos têm um voto, isso removeria o viés de líderes políticos religiosos. É também um passo importante na direção da criação de um estado laico.

2. Ninguém aqui confia no governo, ou na FIFA, no que diz respeito ao custo real da Copa do Mundo. Uma equipe de acadêmicos independentes poderia estudar as finanças do evento, o papel prático da FIFA e do governo, bem como o patrocínio de empresas envolvidas.

Uma perspectiva independente e transparente sobre as finanças do evento, produzida por acadêmicos, a qual também destacasse os benefícios em termos de criação de empregos e infraestrutura, criaria uma imagem verdadeira e equilibrada do quanto este evento realmente está custando para o Brasil: os prós e os contras.

3. Criar um novo código de conduta para todos os políticos eleitos, ao qual os mesmos devem aderir o desde o primeiro dia no trabalho. Todos os representantes eleitos, de vereadores ao presidente, tem que trabalhar com base nesse código, que tem como base a transparência.

Representantes eleitos devem também publicar detalhes de seus rendimentos, declarações fiscais, participações em empresas e seus compromissos, de forma que fique facilmente acessível ao eleitorado. A ênfase tem de estar no fato de que os representantes são eleitos para representar o povo.

4. Criar um novo programa de educação política e cívica para todas as escolas do país. Isso existia quando eu era criança, em duas disciplinas distintas – OSPB e Educação Moral e Cívica –, que faziam parte do currículo escolar, mas que foram extintas. Todo aluno, toda criança e adolescente de qualquer classe social deve saber o que o prefeito e seus representantes locais fazem, em todos os sistemas de governo – da política local até o governo federal em Brasília – de uma forma compreensível e direta.

Recomendo que professores peçam que as crianças conversem com seus pais sobre uma questão local, como, por exemplo, a qualidade das estradas ou do hospital local, por exemplo. As crianças podem, então, entrar em contato com os políticos locais tendo como foco um problema real. A democracia pode ser vista em ação – ou não – desde cedo.

5. Os protestos no Brasil inicialmente começaram por conta dos custos do transportes públicos. Mas líderes locais, como o prefeito Fernando Haddad em São Paulo, estão tentando usar o orçamento local para melhorar o sistema de transportes. Mas São Paulo por si só é responsável por quase 13% de todo o PIB do Brasil. Junte a isso outras grandes cidades do Sudeste, para constatar que uma enorme porção do produto nacional está sendo criado nestas cidades.

É hora de o governo federal começar a fazer cheques para os prefeitos das grandes cidades, para permitir que melhorias em sistemas de Metrô e trem realmente deslanchem, pois já foi provado que o modelo atual simplesmente não é suficiente para financiar tudo.

Esse é o meu plano de ação. Será que a presidenta Dilma vai me ouvir?

Como muitos, também não estou contente com o estado atual do Brasil e até mesmo participei de manifestações nas ruas. Mas também vejo que ambos, manifestantes e presidenta, precisam de algo mais concreto, além das promessas vagas feitas até agora.

Propostas como os cinco pontos listados acima não são radicais e, ainda assim, respondem às principais preocupações do movimento de protesto: De onde sai o dinheiro para a Copa do Mundo? Por que não consigo obter qualquer representação dos políticos que ajudei a eleger? Por que as crianças no Brasil não tratam os políticos como pessoas eleitas para servi-las? Como se pode manter grupos de interesse fora das grandes decisões sociais? Como podemos melhorar a infraestrutura do país?

Amo meu país, e detestaria que perdêssemos a democracia que só conseguimos há três décadas. Mas a democracia que temos no momento ainda está em construção. É hora de arregaçar as mangas e começar a trabalhar para mudar o Brasil.