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[Consumo] Ali babá e os quarenta ladrões

Produção Smiletic

Então, já deu sua passadinha no site Ali Express hoje? O portal de vendas virou febre entre os brasileiros recentemente e fico pensando aqui na coincidência do título do meu texto, e do livro, e a forma como ele funciona.

Vamos falar sobre cadeia de produção? Então senta que a conversa será longa.

Sabe o que o anel de abalone que você comprou na adolescência na feira de artesanato em Caraguatatuba (ou outra cidade litorânea) e a calça da Diesel vendida na Oscar Freire por uma pequena fortuna têm em comum (eu não sei o preço dela)? A cadeia de produção.

Uma pessoa pensa em criar algo. Se for um artesão ele procurará pelos materiais necessários, fará a peça e tentará vendê-la. Se vendê-la pela internet, esse artesão provavelmente precisará de um intermediário que permita ao comprador usar seu cartão de crédito. Após a confirmação do pagamento a peça será embalada e despachada.

Se falarmos de uma empresa, todas essas fases também acontecem, substituindo o papel do artesão por uma área de criação, outra de compras, outra de projetos, que torna o sonho em algo viável, a área de produção, a área de marketing, que pensará em como e quando o produto poderá ser vendido, a área de vendas, diretas ou para outras empresas, o financeiro para controlar o que foi pago e o que foi ganho, a contabilidade, o departamento pessoal, a limpeza… Ufa, quanta coisa.

Em todas essas fases: custos, impostos e encargos. Impostos que permitem ao Estado fazer seu papel social – ainda que ele não o faça direito – e encargos que devem garantir os direitos dos trabalhadores.

E nada disso aparece naquela linha nova da Nota Fiscal em que você nunca prestou atenção na qual são demonstrados os impostos. Porque ali estão apenas os impostos diretos daquela venda, e não tudo que veio sendo embutido a cada fase do processo.

E por que uma calça jeans custa R$ 89,00 naquela loja de fast fashion do shopping e mais de R$ 500,00 na tal loja da Diesel que citei – estou apenas chutando um número?

A cadeia de produção funciona da mesma forma para as duas, mas podem ter valores diferentes em função da qualidade e exclusividade da matéria-prima utilizada, da complexidade da peça, a quantidade de peças fabricadas num mesmo modelo, do local aonde está instalada, se terceirizam ou não sua produção, aonde tem suas lojas.

Além de tudo isso, contam marca e status. Marca é algo conquistado. É o trabalho diferenciado que traz a fama, é a qualidade que as pessoas reconhecem. É algo construído. O status é uma opção: você nunca vai encontrar uma calça jeans por R$ 50,00 em uma loja como a diesel porque ela não quer. Ela prefere ganhar muito em uma peça do que muito em várias peças – não se engane, todas elas estão ganhando – e ser reconhecida como tendo um produto especial, para poucos.

Que querem continuar sendo poucos, que não querem encontrar “um qualquer” usando a mesma roupa que eles.

Normalmente a opção pelo status vem depois que a marca já está consolidada, mas algumas vezes é uma estratégia desde o lançamento de um produto.

A questão é que para um produto, aquele seu sonho de consumo chegar até você, existe pelo menos uma pessoa envolvida, se estamos falando de algo artesanal, e que deve ser adequadamente remunerada por seu trabalho – como você deve ser remunerada adequadamente pelo seu.

Então, olhando para tudo isso, você não acha estranho que uma camisa social, que para existir exigiu tempo, dedicação, matéria-prima, pagamento de impostos e encargos, custe US$ 5? Por mais barato que seja o custo de vida no país em que ele foi feito, algo me diz que US$ 5 não é o bastante para remunerar adequadamente seja um artesão, seja uma fábrica inteira.

Sim, por aqui os preços andam descontrolados, ainda assim, US$ 5 é muito pouco.

Poxa, Simone, mas se eu não comprar desta forma eu não consigo comprar!

Bom, acho que precisamos pensar no que realmente precisamos comprar, o não comprar nem sempre é uma opção ruim, o reduzir as compras menos ainda.

Agora, a mágica dos preços baixos eu conto num outro texto.

Foto: Simone Miletic

*Texto publicado originalmente em Smiletic.com e faz parte de uma série de 3.

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Vá conhecer a Marjorie Rodrigues

Eu já cruzei com a Marjorie na linkania, tenho certeza. Ou bem li algum post muito bem escrito (talvez da questão da “Carta para Luisa”), ou cliquei num link que deu lá. Juro que não lembro. Importa, sim que a dona Gaborin indicou no LuluzinhaCamp um post (polêmico) dela sobre o filme Jean Charles. E, depois de palpitar no assunto sem ter lido, eu fui ler. E adorei “conhecer” esta mulher. Firme, centrada, corajosa, delicada. Feminina em tudo o que há para ser.

Como a gente nunca pára no primeiro link – e navegadores são dedos-duros – eu vi que já havia passado pelo blog pessoal da moça – além do Amálgama. Então vou lembrar a quem gosta de feministas e suas posições: leia Marjorie Rodrigues.

P.S: escrevi este post semana passada. Hoje a Marjorie mandou muito bem num looongo texto sobre a história do lingerie day… vale a pena.