Categorias
Ações e Campanhas

A Tia Nastácia e o pé na cozinha

Quando Charô me escreveu, contando sobre sua vontade de organizar uma Blogagem Coletiva da Mulher Negra, tinha certeza que o LuluzinhaCamp devia entrar na roda. Sou coordenadora das Blogueiras Feministas (que também estão participando), mas esse espaço aqui é meu primeiro encontro comunitário entre mulheres. Sabia que Lu Freitas e outras queridas do grupo também iam abraçar essa causa. Não deu outra, a Cintia Costa e a Beth Vieira já publicaram.

E, nos emails entre eu e Charô, pensando no que preparar aqui nesse espaço, surgiu logo a ideia de convidar Larissa Januário para ocupar e falar sobre esse imaginário que povoa a relação das mulheres negras com a cozinha. Uma relação que possui estreita ligação com o cotidiano da senzala do passado e com a vida de tantas trabalhadoras domésticas atualmente.

A Larissa aceitou o convite e nos brinda com esse maravilhoso texto.

Charô e Larissa Januário em um LuluzinhaCamp de 2009. Foto de Lidia Faria no Flickr em CC, alguns direitos reservados.

—–

Texto de Larissa Januário.

A Tia Nastácia e o pé na cozinha

“Tenho o pé na cozinha”. Sempre que alguém usa essa máxima para justificar sua origem negra, um pouco da minha fé na humanidade se abala.

Primeiro, porque tal frase reforça séculos de preconceito. Remete a um Brasil colonial escravocrata, quando lugar de negro era na senzala, no máximo dos lucros, na cozinha.

Segundo, porque reflete uma realidade que resiste e persiste. As negras, pelo menos a maioria de nós, ainda estão condenadas ao batuque da cozinha. Não de um jeito bom, bem remunerado, criativo e exaltado pela efervescência gastronômica atual.

Dizer ter o pé na cozinha traveste de lúdico um preconceito sócio racial que coloca todas nós mulheres negras na área de serviço. Não por opção, mas por condenação. É tão somente pela herança maldita da escravidão.

E desse mesmo jeito lúdico, todas nascemos com o estigma de Tias Nastácias. A quituteira de mão cheia do Sítio do Pica-Pau Amarelo que fazia bolinho de chuva, lambari, frango assado… Mas quem assina e estampa desde sempre as capas de todos os livros de receitas é a sinhá, Dona Benta, uma simpática e alva vovó.

Não ouso dizer que esse é meu caso. Apesar de negra, não nasci condenada à cozinha. Pela exceção do meu pai à regra, estudei em boas escolas, graduei e pós-graduei. Sempre levei meus dois pés pra cozinha por vontade própria e, só por opção, entro nela para trabalhar.

E ainda sim, quando eu e minha sócia (branca) estamos a cozinhar, desavisados de plantão, incutidos do famoso “pé na cozinha”, insistem em colocar-me como “a ajudante”. Já me entregaram copo sujo em evento que eu estava como convidada.

Preconceito é ruim de qualquer jeito. Pelo simples fato de ser um agente limitador. Mas o velado, pra quem o sofre, talvez seja pior. É aquele tapa que vem disfarçado de gentileza. Afinal, quem não ama a Tia Nastácia? Mas que ela não se atreva a tirar os pés da cozinha. Nas obras de Lobato, Tia Nastácia volta e meia é ofendida com expressões racistas como “macaca de carvão”.

Não quero condenar aqui a obra de Monteiro Lobato. Além de valor artístico, é registro histórico de uma época. Revisitá-la é essencial até para nos entendermos como cultura. Mas é preciso refletir a respeito e dispensar estereótipos que não cabem mais.

Desse balaio o que vale salvar mesmo é a herança culinária. A presença constante das negras na cozinha do Brasil Colônia nos deixou uma cozinha rica, mixada, plural. O encontro da mandioca com as receitas portuguesas, as adaptações dos pratos afros aos hábitos europeus e ingredientes locais. O sincretismo religioso levado à mesa de todos os santos. Tudo isso permite que possamos escolher ver o pé na cozinha como algo que vai muito além de uma herança genética infeliz. Abre uma nova perspectiva de respeito a todas as Tias Nastácias que ajudaram a fazer da cozinha brasileira o que ela é hoje.

[+] Para acompanhar esse texto, a sugestão é uma receita de moqueca africana (peixe à lumbo). Não deixe de conhecer outras ótimas receitas no blog Sem Medida por Larissa Januário.

[+] Acompanhe a Blogagem Coletiva Mulher Negra no blog, twitter e facebook.

Categorias
Encontros Nacional

Comes e Bebes – você pode ajudar!

Algumas moças perguntaram no texto de ontem da Lu Freitas: todas as participantes devem levar guloseimas para o LuluzinhaCamp? Hoje, a Gabi levantou a bola – por email, não aqui – e a gente percebeu que a coisa toda está meio vaga… Então, vamos melhorar isso?

Por que levar comidinhas para o LuluzinhaCamp?

Porque é gostoso partilhar nossas especialidades culinárias. Porque é bacana fofocar em volta de uma mesa cheia de coisas gostosas. Porque o encontro é num sábado, dia de sair da dieta. E porque não dá pra ficar das 10h às 17h sem comer alguma coisinha, não é? 😉

Na hora do almoço, é provável que escapemos até o Shopping Eldorado, que fica pertinho do Espaço Gafanhoto (dá pra ir a pé tranqüilamente) e tem uma praça de alimentação legal. Além disso, seria bom termos algo para beliscar, um suco pra matar a sede, uma mesa de café-da-manhã…

Todas as participantes precisam levar comidinhas?

Essa, a Nospheratt já respondeu nos comentários de ontem: de jeito nenhum!

Se você se estará hospedada em um hotel ou se, simplesmente, o tempo está muito apertado, não se preocupe. O pratinho é opcional. O que importa de verdade é a sua presença!

Se você até gostaria de colaborar mas não tem muita intimidade com o fogão, não fique tímida: dê um pulinho ao supermercado ou à padaria e compre algo pronto. Esse deve ser um momento prazeroso do nosso encontro, não uma dor de cabeça!

Eu quero levar alguma coisa… o que pode ser?

O Espaço Gafanhoto não tem pratos ou talheres. Além disso, não queremos produzir uma quantidade absurda de lixo (não se esqueça de trazer sua própria caneca!).

Então, quando escolher sua contribuição, pense em coisas que podem ser comidas com as mãos: sanduíches, bolos, salgadinhos, pão de queijo, docinhos de aniversário…

Numa listinha rápida, o que seria legal ter no LuluzinhaCamp?

  • receitas salgadas
  • receitas doces
  • sucos (nas versões com e sem açúcar)
  • refrigerantes (nas versões com e sem açúcar)
  • café
  • açúcar e adoçante (para o café)
  • guardanapos

No caso do café, seria perfeito se alguma moça pudesse emprestar uma cafeteira…

Chá e chocolate quente também podem ser uma boa, hein?

Dá pra pensar em várias formas de enriquecer esse nosso dia à volta de uma mesa gostosa e animada. Aposto que há montes de idéias por aí, e de voluntárias também.

Para facilitar, que tal compartilharmos idéias e tarefas por meio de uma lista de discussão?

Se você pode colaborar com os lanchinhos, entre na lista LuluzinhaCamp, criada especialmente pra isso. Se tiver algum problema em se cadastrar na lista, é só deixar um comentário aqui que a gente dá um jeito. 🙂

Toda ajuda é bem-vinda!