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Ada lovelace day: ou parem a violência de gênero dentro da área tecnológica

Revisão textual e contribuições da programadora web: Lanika Rigues

O “Dia de Ada Lovelace” foi criado em 2009 por Suw Charman-Anderson, como resultado do apagamento da presença feminina que algumas empresas insistiam e insistem em fazer nos eventos de tecnologia, sempre optando por palestrantes homens – apesar do destaque de mulheres em diversas áreas. A data escolhida foi em outubro, para melhor acomodar as atividades de todos os participantes do grupo, mas o aniversário real de Ada Lovelace é em dezembro. Em 2015 ela fará 200 anos de nascimento.

Tratamos o preconceito como algo do passado, mas ele ainda está presente no cotidiano de forma violenta, chegando ao ponto de uma pessoa se sentir ameaçada fisicamente e não se sentir segura ao se locomover pelo simples fato de ser mulher. O apagamento também é uma forma de violência – o número de mulheres na área de tecnologia já foi maior e diminuiu. Hoje, algumas organizações realizam eventos pelo mundo em homenagem à primeira programadora e a outras mulheres de destaque, com palestras dadas por mulheres que causaram impacto nas áreas de ciência, matemática e tecnologia. Ada, mesmo reconhecida internacionalmente pelo caráter único do seu trabalho, ainda hoje possui alguns detradores que colocam em dúvida a sua autoria.

 Participe:

(lista Luluzinha Camp)   https://groups.google.com/forum/#!forum/luluzinhacamp

(dados abertos e aplicativos do governo – tecnologia e gênero)  http://edemocracia.camara.gov.br/web/hackathon-de-genero-e-cidadania/forum#.VDZVePldV9t

Se você acha esta situação ruim, descobertas fundamentais realizadas por mulheres negras que participam da academia são ainda mais colocadas em xeque – elas precisam constantemente provar a sua capacidade – e isso vem de muitos anos antes da política de cotas sequer ter a possibilidade de implementação ou discussão. Muitas cientistas nunca foram reconhecidas, e isso ajudou a disseminar a ideia de que mulheres não são aptas para os números: Lisa Meitner fez cálculos que permitiram a descoberta da fusão nuclear; Rosalin Franklin fez a fotografia que permitiu revelar a estrutura da dupla hélice do DNA; Nettie Stevens descobriu os cromossomos X e Y, que determinam o sexo das pessoas. Por fim Hedy Lamarr, que durante a Segunda Guerra Mundial criou um aparelho de comunicação capaz de despistar radares nazistas – esta tecnologia serviu de base para criar o celular. Nos casos em que a equipe ganhou o prêmio Nobel, as mulheres muitas vezes não foram citadas, sequer como co-autoras!

Lady Ada, por Lisa Congdon. Fonte: http://www.vlsci.org.au/page/publications

Se falamos em pouco progresso, em 2014 houve o #gamergate: as ofensas não eram críticas somente à capacidade, mas apenas e tão somente devido ao fato de ser mulher. Em uma indústria que se diz de ponta, seria de se esperar que a maneira de tratar a mulher devesse ser também avançada, mas o que vimos foi a comunidade gamer ignorar, minimizar e distorcer um acontecimento e ainda espalhar fotos de uma desenvolvedora de jogos nua. Lembrando que o machismo pode ser reproduzido por outros gêneros e não se restringe apenas ao masculino.

Na contramão disso houve o engajamento e a declaração da artista Emma Watson, que lançou a campanha He for She. Nele, ela reafirma que o protagonismo, discussão e liderança no feminismo são das mulheres, sempre; o programa incentiva a parceria, apoio e reflexão dos homens na luta pela igualdade dos gêneros na prática e diz que a presença masculina é mais que bem-vinda.

Filha do poeta Lord Byron e Annabella Milbanke – chamada pelo esposo carinhosamente de Princesa dos Paralelogramos – Augusta Ada Byron foi fruto de um casamento que durou pouco e teve pouca convivência paterna. Tinha saúde delicada, e teve como tutora na área a matemática Mary Sommerville (que traduziu para o inglês Mécanique Céleste de Laplace).

Em 1833 aos 18 anos Ada Byron foi apresentada a Charles Babbage, que era amigo de Mrs Somerville, em uma festa na corte. Fascinada com a máquina analítica após visitar o laboratório de Babbage, acompanhou suas pesquisas e mais tarde se dedicou a traduzir um artigo de Luigi Menabrea “De sur la máquina analytique”. As notas que a “Encantadora dos Números” escreveu tinham o triplo do tamanho do que traduzira, mais longas do que o texto em si. A tradução a levou a escrever o primeiro algoritmo para calcular números de Bernoulli.

Após o casamento, Ada tornou-se Lady Augusta Ada Byron King, Condessa de Lovelace, mãe de três filhos. Era uma mulher à frente do seu tempo, que flertou abertamente e protagonizou vários escândalos – por isso parte da sua correspondência foi perdida, destruída pelo marido. A continuidade de seu trabalho científico foi prejudicada pela falta de interlocutores após a doença e falência de Babbage. Parte ainda se prejudicou pelo seu hábito de fazer apostas em cavalos e a fragilidade do seu estado de saúde se acentuou quando substituiu suas refeições por vinho e ópio.

Hoje conhecida como Ada Lovelace, Lady Ada é considerada a primeira programadora da história pois escreveu o que se considera o primeiro algoritmo a ser interpretado por uma máquina. Segundo historiadores, a maior contribuição de Lady Ada à programação foi vislumbrar que o computador mecânico poderia fazer outras operações além de simplesmente fazer contas com números – operações complexas relacionadas à composição musical, por exemplo.

Notas de Lovelace foram publicadas pela primeira vez no The Ladies’ Diary, e no livro de Richard Taylor Memoirs Científica Volume 3 em 1843 como AAL. O algoritmo teria funcionado se a máquina de Babbage tivesse realmente sido construída, mas o projeto só foi realmente efetivado em 2002 pelo Museu da História do Computador, em Londres.

 

Participe mais:

http://luluzinhacamp.com/sobre/

http://mulheresnacomputacao.com/

https://www.facebook.com/GiTSaoPaulo/

https://www.facebook.com/onumulheresbrasil

https://www.facebook.com/femininolivre/

https://pt-br.facebook.com/nucleogetec

https://www.facebook.com/groups/533067570082981/

 https://www.facebook.com/groups/533067570082981/

(traduza) http://en.wikipedia.org/wiki/Wikipedia:Meetup/Ada_Lovelace_Edit-a-thon_2013_-_Brown

 

Biografias e livros :

A Passion for Science: Stories of Discovery and Invention

http://findingada.com/book/ada-lovelace-victorian-computing-visionary/

Negras e Negros Inventores, Cientistas e Pioneiros – Contribuições para o desenvolvimento da humanidade http://leiaoestatutodaigualdaderacial.blogspot.com.br/2013/01/negras-e-negros-inventores-cientistas-e.html

Essinger, James: (2013) A Female Genius: How Ada Lovelace Started the Computer Age.

Ada´s Algorithm: How Lord Byron’s Daughter Ada Lovelace Launched the Digital Age (lançamento out/2014) http://www.theatlantic.com/technology/archive/2014/09/before-computers-people-programmed-looms/380163/

Walter Isaacson (mesmo autor da biografia do Steve Jobs) : lançamento out/2014 THE INNOVATORS How a Group of Hackers, Geniuses, and Geeks Created the Digital Revolution. New York Times (em ingles) http://www.nytimes.com/2014/10/09/arts/walter-isaacsons-the-innovators-studies-computer-wizards.html

J Baum, The Calculating Passion of Ada Bryon (Hamden, 1986).

M Elwin, Lord Byron’s family : Annabelle, Ada, and Augusta, 1816-1824 (London, 1975).

D L Moore, Ada, Countess of Lovelace: Byron’s Legitimate Daughter (London, 1977).

D K Stein, Ada : A Life and a Legacy (Cambridge Mass., 1985).

B A Toole, Ada, the enchantress of numbers : a selection from the letters of Lord Byron’s daughter and her description of the first computer (Mill Valley, Calif., 1992).

 

 Saiba ainda mais:

https://www.adafruit.com/about

16 outros grandes nomes femininos na computação https://www.sdsc.edu/ScienceWomen/

Vídeos sobre Ada Lovelace http://mulheresnacomputacao.com/2013/10/15/ada-lovelace-day-2013/

Biografia de Lovelace em quadrinhos http://sydneypadua.com/2dgoggles/lovelace-the-origin-2/

presença em peso de mulheres em evento de tecnologia – qual a diferença? http://www.ebc.com.br/tecnologia/galeria/imagens/2012/10/latinoware-2012-se-destaca-pela-grande-presenca-de-mulheres

https://www.facebook.com/GarotasCPBr

http://mulheresnatecnologia.org/evento

http://www.hackagenda.com.br/

http://ada.vc/

 

(patrocine)

 https://www.indiegogo.com/projects/ada-lovelace-day-live-2014

http://observador.pt/2014/08/21/bonecas-com-profissoes-ligadas-querem-inspirar-criancas/

http://rodadahacker.com/quanto-custa-uma-rodada-hacker-uma-conta-de-papel-de-pao/

 

Doodle de 2012 em homenagem ao primeiro dos programadores da história : 197º aniversário de Ada Lovelace
fonte: google http://www.google.com/doodles/ada-lovelaces-197th-birthday

 

Referências:

http://findingada.com/blog/2009/01/05/ada-lovelace-day/

http://www.newscientist.com/blogs/shortsharpscience/2009/03/ada-lovelace-day.html

http://www.geledes.org.br/racismo-e-preconceitos/casos-de-preconceito/

http://www-history.mcs.st-and.ac.uk/Biographies/Lovelace.html

http://www.britannica.com/eb/article-9049130/Ada-King-countess-of-Lovelace

http://blogs.estadao.com.br/link/as-pioneiras-que-a-tecnologia-esqueceu/

http://www.miniweb.com.br/atualidade/tecnologia/artigos/ada_%20byron.html

http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/7-coisas-que-voce-deveria-saber-sobre-ada-lovelace/

http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/paisagem-fabricada/2012/10/22/ada-lovelace-a-primeira-programadora/

http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/economia/internacional/noticia/2014/10/12/evolucao-da-tecnologia-nao-seria-a-mesma-sem-as-mulheres-150665.php

http://operahouse.com.br/blog.php?u=ada-lovelace-a-primeira-programadora-da-historia

http://blogs.estadao.com.br/link/quem-e-ada-lovelace-e-por-que-ela-tem-um-dia/

http://www.dirigida.com.br/news/pt_br/ada_lovelace_a_primeira_programadora_do_mundo_r7/redirect_10678055.html

http://br4d4.wordpress.com/tag/ada-lovelace/

http://www.softwarepublico.gov.br/O_que_e_o_SPB

http://thinkolga.com/2014/04/11/as-seguidoras-de-ada-lovelace/

http://jurassicdos.blogspot.com.br/2012/10/ada-lovelace-day.html

(discussão sobre programador/programadora)

http://vidadeprogramador.com.br/2011/09/03/desde-quando-mulher-sabe-programar/

http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/mulherio/ada-lovelace-a-primeira-programadora-da-historia-4/

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Novo Recomeço

cartaamarela89

Novo começo.

Ou a velha nova tentativa de começar. Eu venho tentando juntar alguns pedaços e organizar a mim mesma, “putting things togheter” por um longo tempo agora. Estou tentando traçar algumas metas, porque geralmente quando temos objetivos, isso nos ajuda bastante a percorrer o árduo caminho dessa organização. Pequenos objetivos, que sejam checklists diários com pequenas ações dão um enorme impulso para se chegar ao caminho certo, se você se atém aos objetivos pensando na “big Picture”. Mas, contudo, todavia, agora tudo que eu consigo ver é que estes pequenos objetivos venceram um pouco o prazo, ou seja, não me servem mais como já serviram. Devo fazer algo maior, devo me desafiar para um passo maior. A parte difícil é que eu não tenho ideia por onde começar.

Acabei concluir o meu mestrado, em Psicologia Institucional em universidade federal. Isso já é algo enorme, uma conquista árdua, suada e digna de muito orgulho. Mas, no fundo, pensando sobre a maneira na qual a vida me trouxe aqui, essa conquista é apenas mais uma dentre tantas coisas das quais eu prometi a mim mesma que faria. E eu realmente fiz, cumpri, terminei. Foi difícil, tive muitos percalços. Era pesado “só estudar”, me sentia muito solitária, me sentia, por vezes, sem valor. Apesar de tudo, superei as crises e posso bater no peito e afirmar: eu FIZ isso. De alguma forma, todo o meu sofrimento parece agora leve. E tudo o que posso ver é um grande buraco negro na minha frente: o meu futuro.

Agora eu tenho tempo para fazer o que eu quiser. Eu estou crescida. Eu sou uma mulher adulta inteligente, eu posso fazer qualquer coisa.  Posso ser o que eu quiser. Eu realmente posso. Quando falo aqui de um novo começo, o que eu quero dizer é: em qualquer momento, em qualquer lugar e qualquer coisa. O mundo é meu playground de possibilidades.

Mas, no fundo, os meus medos estão gritando: pode? Pode mesmo? Você conseguiria?

Acredito que ainda estou descobrindo ou tentando descobrir e responder à essas perguntas. Eu abro meu navegador e passo horas olhar o Google Maps, viajando mentalmente e tentando pensar sobre os lugares que eu gostaria e quero visitar, a(s) vida(s) que eu poderia construir… Procuro através de depoimentos em blogs e sites reunir algumas pistas, dicas, respostas. Há uma coisa  principal que eu estou aprendendo neste processo – através daqueles pequenos passos que disse ali em cima, devo dizer -: tudo o que você faz, você vai fazê-lo por si mesmo E sozinho. É sua responsabilidade de cuidar de você e de liderar o caminho que deseja seguir. Não deixe ninguém enganar a sua confiança, não desista dos seus sonhos, ainda que eles pareçam grandes demais ou muito longes de sua condição no presente. Você não é tão pequeno quanto você pensa que é. (De repente, eu estou escrevendo em terceira pessoa, se tornando como uma carta para mim mesma. Também serve pra você e pra tanta…).

Há um caminho para o novo começo.

E devo começar a andar. Hoje é o primeiro dia.

Vamos lá então!

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Paula Maria é  Psicóloga, terapeuta formativa e escritora. Confeiteira e bordadeira, paciente e brava. Capixaba, 28 anos. Em busca do seu caminho e de tentar ajudar a fazer um mundo melhor.

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Literatura não é para se ler

Agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura. Inspiradas em tanta criatividade, reunimos algumas luluzinhas para falar nos próximos dias do relacionamento delas, com a arte e a cultura. Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp. Finalizamos a semana com literatura, da melhor qualidade. Divirtam-se!

Imagem: Holland House, Kensington, London, 1942. Image by Fox Photo, English Heritage
Imagem: Holland House, Kensington, London, 1942. Image by Fox Photo, English Heritage

Já tem mais de dez anos o dia em que deram um chute no meu banquinho e eu caí de bunda no chão. “Mas é CLARO que Paulo Coelho é literatura. Foi produzido por um ser humano, usa codificação/linguagem – então é literatura. Má ou boa literatura, não interessa: apenas é.” E eu, do alto da minha soberba, despenquei para a vala comum mas especial dos que amam livros, sem julgamento. Sim, Paulo Coelho é literatura.

Tem gente que se orgulha de nunca ter lido um livro na vida. Tem gente que tem, como meta de vida, chegar aos 11 mil títulos que, em média, o ser humano é capaz de ler, se viver (em média) 80 anos. E eu, a loka, acho pouco. Porque já foram publicados, desde que se tem notícia, 350 milhões de títulos pela humanidade. E são 11 mil ao alcance da minha existência.

A literatura tem múltiplas definições. É a ciência do literato; é o conjunto das obras literárias de um país ou de uma época; são os escritos narrativos, históricos, críticos, de eloquência, de fantasia, de poesia, etc ou, ainda, vejam só, o folheto que acompanha um medicamento ou alguns outros produto, de conteúdo informativo sobre composição, administração, precauções. Mas literatura é mais – e foi depois do meu tombo que eu percebi.

Literatura é o cheiro do livro novo. São as escolhas do editor – o papel, as guardas, o desenho da lombada francesa, inglesa ou americana. É a opção por determinada capa, o texto das orelhas, da contracapa. E a escolha da tipologia, da cor (ou da ausência dela). É a música que você ouve dentro da sua cabeça quando sente, na ponta dos dedos: “Lolita, luz de minha vida, fogo do meu lombo. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua fazendo uma viagem de três passos pelo céu da boca, a fim de bater de leve, no terceiro, de encontro aos dentes. Lo-li-ta. Era Lo, apenas Lo, pela manhã, com suas meias curtas e seu metro e meio de altura. Era Lola em seus slacks. Era Dolly na escola. Era Dolores quando assinava o nome. Mas, em meus braços, era sempre Lolita.”

A literatura está nos livros de pano e plástico. Está na lata de Nescau que o sobrinho lê, aos quatro anos, para espanto e mudez de todo mundo na cozinha. Na lanterna acesa embaixo do cobertor da filha porque o fim de “O cálice de fogo” não pode esperar. Está na sala de espera da clínica, na primeira sessão de radioterapia, o enfermeiro impaciente na porta chamando pela enésima vez o seu nome, e você apenas arfa porque “ele começou a repreendê-la, e sua falta de jeito poderia ser mal-interpretada por esses alemães, e os olhos dela recomeçaram a intumescer mas, graças a Deus, num escuro desse ninguém ia perceber, e depois foram para casa juntos, sem falar um com o outro, como se fossem estranhos – […] mas mais tarde foi lhe dar boa-noite – ele vinha todas as noites despedir-se dela, principalmente depois das brigas e desavenças – ele a despertava ternamente e a acariciava, beijava-a, porque ela era dele e dependia dele fazê-la infeliz ou feliz […] – ele a abraçava, beijava-lhe os seios e eles começavam a nadar – nadavam a grandes braçadas, estendendo simultaneamente os braços na água e simultaneamente enchendo os pulmões de ar, afastando-se cada vez mais da margem, em direção à saliência azul do mar, mas quase todas as vezes ele caía numa contracorrente que o arrastava para o lado e até um pouco para trás – ele não conseguia alcançá-la, mas ainda assim ela continuava a estender os braços na mesma cadência, chegando a perder-se ao longe, e ele tinha a impressão de que já não nadava, mas apenas debatia-se na água tentando alcançar o fundo com os pés, e essa correnteza o arrastava para o lado e o impedia de nadar junto com ela […].”

Literatura é aprender outras idéias, outras pessoas – mesmo sem entender o que diacho são vogais e consoantes. É o que eu aprendi com o cara que sobreviveu à queda do avião. Como ele agora só coleciona vinhos ruins – e bebe os bons com quem gosta. Mas eu não bebo, eu escrevo para que os outros leiam.

Escrevo cartas para as minhas filhas. Escrevo para pessoas a quem nem conheço pessoalmente que ela é uma grande cozinheira, que é linda e que deve cheirar a baunilha e canela. Escrevo em pequenas tiras de papel quem quero conhecer, quem quero abraçar, de quem desejo mais lições de vida. Escrevo para o meu pai, para não deixar que o fio vermelho rompido da vida dele caia no chão do esquecimento.

Você pode abandonar a literatura, mas ela não abandona ninguém. Ela está nos memes do facebook. Nos textos com falsa autoria que circulam na sua caixa de mensagens. Está em livros, camisetas, postais, dedicatórias; nas placas de rua que os seus filhos lêem com dificuldade; nas revistas de fofocas no salão do cabeleireiro. Ela está não no livro que você leva na bolsa e abre na antessala do oncologista, mas sim nos olhos do médico que a observa em silêncio e lê, em cada linha da sua postura, o seu sofrimento, a sua história, a sua esperança.

Literatura não é para se ler. Literatura é ser humano. Basta saber viver. Basta saber ler.


*Suzana Elvas

Editora freelancer, mãe de duas adolescentes, uma labradora e três mil livros.

breviariodashoras.blogspot.com
facebook.com/suzana.elvas
suzana.elvas@gmail.com

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Design | Dicas e inspirações

Agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura. Inspiradas em tanta criatividade, reunimos algumas luluzinhas para falar nos próximos dias do relacionamento delas, com a arte e a cultura. Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp. Divirtam-se!

Paleta de cores - Imagem: crazyoctopus / Flickr
Paleta de cores – Imagem: crazyoctopus / Flickr

Olá, meu nome é Marlene*, sou formada em Design de Interfaces pela PUC/SP e trabalho há 13 anos com design e desenvolvimento de sites.  Nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp vim compartilhar algumas dicas profissionais de Design com vocês.

Tudo que é relacionado a design envolve inspiração e conhecimento, mas não é todo dia que a cabeça “tá boa para criar” e quando isso acontece, nada melhor do que um embasamento teórico e referências para te guiar na criação.

No entanto, quando a inspiração lhe faltar, segue abaixo algumas dicas de criação que uso:

Como começar

Se o cliente tiver, obtenha logo e identidade visual da marca, dessa forma você já vai ter um direcionamento para a criação.

Se o cliente não tiver uma identidade visual, comece pela definição da paleta de cores.

Se precisar de inspiração, confira as paletas de cores do Colour Lovers ou crie uma do zero no Kuler.

paletas de cores

Investigar a rotina e o local sobre o que você está desenhando

Um professor contava uma história que ele precisava desenvolver um layout para uma ONG de ciclistas, mas depois de diversas tentativas de layout e nenhum aprovado, ele decidiu sair uma noite para andar de bike com os ciclistas.

Em um trajeto de rodovia e ele percebeu que a visualização que ele tinha de cima da bicicleta era a faixa que dividia as pistas. Então ele fez todo o layout do site baseado nessa “faixa amarela” e o público-alvo da ONG logo se identificou com o site.

 

faixa amarela estrada - imagem_diego pacheco
Imagem: Diego Pacheco

 

Busque referências de escolas de Design

Bauhaus, Cubismo, Art Noveau, entre outras.

Escolha um estilo mais apropriado e siga as referências do início ao fim, mas tente criar algo do zero, a ideia é seguir somente o estilo e não copiar.

Utilize as leis de Gestalt

Semelhança, proximidade, continuidade, pregnância, fechamento e unidade.

Um pouco de teoria ajuda muito, se quiser saber mais sobre Gestalt, tem esse link – O que é Gestalt –  com uma explicação ótima.

Técnica para criação (caos)

Ideias, referências, rascunhos, recortes, botões, imagens, paletas de cores, textos…

Junte tudo numa tela só, de modo caótico mesmo, para visualizar tudo ao mesmo tempo e assim facilitar a criação.

Para se inspirar

Siga blogs que falam sobre design, procure referência sobre os Designers famosos do mercado, siga eles também (feed do sites, redes sociais), encontre seu estilo e busque inspiração com quem sabe fazer.

Não precisa ser só referências de web designers ou designers gráficos, pode ser de outros ramos, como artistas plásticos, arquitetos, entre outros.

Sites de inspiração

Interagido com clientes

De médico, louco e DESIGNER todo mundo tem um pouco. Se acostume logo de início, que todo mundo gosta de dar pitacos sobre o seu layout.

Existe uma “técnica” de sempre deixar um objeto desalinhado de propósito para o cliente opinar justamente sobre isso, mas pode ter certeza que ele vai querer opinar em mais coisas.

Olha mãe, eu que fiz!

Apesar de ter todas as dores de ser um designer, não tem nada mais gratificante do que subir um site ou buscar um impresso na gráfica e dizer “Eu que fiz”.

É uma sensação de que sua criação finalmente nasceu.

*Photo Credit: crazyoctopus via Compfight cc


*Marlene Dualiby (@marlenedualiby) Tem experiência de 13 anos em criação e desenvolvimento de sites, e-commerce e portais. É formada em Design de Interfaces pela PUC-SP e pós-graduanda em Arquitetura da Informação na FIT-SP.  Atua como Arquiteta da Informação e Designer da plataforma de e-commerce Megafashion. Saiba mais em www.marlened.com

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Burlesco | E a arte do striptease

Agosto é um mês especial para os amantes de arte e cultura. Inspiradas em tanta criatividade, reunimos algumas luluzinhas para falar nos próximos dias do relacionamento delas, com a arte e a cultura. Cada uma do seu jeito, e cada jeito, bem especial, compartilhando um pouco da sua experiência no assunto nesta semana de arte e cultura do Luluzinha Camp. Divirtam-se conhecendo um pouco da dança burlesca!

pernas e meias |  Imagem: SWANclothing - Flickr
Burlesque / Imagem: SWANclothing – Flickr

Olá! Meu nome é Lola* e, como cantava Barry Manilow, eu sou uma showgirl. 😉

Esta é a Semana de Arte e Cultura do LuluzinhaCamp, e eu estou aqui para contar pra vocês sobre uma modalidade de dança ainda pouco conhecida no Brasil: a dança burlesca.

Uma breve história do Burlesco

Antes, um pouquinho de história. O burlesco como conhecemos atualmente teve origem nos Estados Unidos, na década de 1860. Era um show de variedades onde tudo era exagerado (burlesco significa exagero), e era composto principalmente de números de comédia, principalmente sátiras políticas, e os grandes números de striptease.

Sim, você leu direito: striptease! Por ser burlesco, eram números muito exagerados, teatrais, que eram sensuais ao mesmo tempo em que tiravam sarro da sensualidade. Ah, e a dançarina nunca fica completamente nua: um tapa-sexo ou calcinha fio dental e os pasties, aqueles enfeites que cobrem os mamilos, são obrigatórios. Por causa da censura no século 19, estes elementos eram fundamentais.

Quer um exemplo? A grande estrela da época, Gypsy Rose Lee, era expert na arte de misturar sensualidade com comédia e inteligência.

*“A Psicologia de uma Stripteaser”, por Gypsy Rose Lee, em versão apropriada para TV. Aprecie a beleza deste monólogo!

A dança burlesca

Os shows burlescos permaneceram populares até a década de 1940, depois foram caindo na marginalidade. Alguns filmes de Hollywood tentaram manter o estilo, recriando o espírito das performances burlescas entre 1930 e 1960, ou incluindo cenas ao estilo burlesco em grandes filmes como Cabaret, de 1972, entre outros.

A própria Gypsy Rose Lee teve sua vida retratada no filme Gypsy, de 1962, estrelado por Natalie Wood. Mas foi somente no início dos anos 1990 que o burlesco voltou à cena com nomes como Catherine D’Lish, Jo Weldon e…  Já adivinhou? Dita Von Teese.

 

Então, o burlesco é isso. É a arte de tirar a roupa com sensualidade, mas ao mesmo tempo de forma divertida e teatral, mesclando elementos de danças como jazz, charleston e dança do ventre, entre outras, em coreografias que, não raro, contam uma história para o público.

Além disso, o burlesco apóia a diversidade. No burlesco não existe o “corpo perfeito”: gordinhas, magrinhas, gostosas ou não, a dança é democrática e tem espaço pra todo mundo. Só não podem faltar muitas plumas, muito Swarowski, muito glamour e muito senso de humor! 🙂

Onde aprender mais sobre o Burlesco

Livros:

Filmes:

Disclaimer: o flime Burlesque, com a diva Cher e a Xtina, não tem nada a ver com burlesco. O clube retratado no filme é, no fim das contas, um cabaré. O blog The Frisky tem um artigo ótimo sobre isso, vale a leitura: What Actual Burlesque Stars Think Of The Movie “Burlesque”.

*Photo Credit: SWANclothing via Compfight cc


*Lola Kitt é showgirl, Luluzinha e stripper, com muito orgulho. Há dois anos apimenta a cena noturna paulistana com performances burlescas de muito glamour. Para saber mais da moça: contato@lolakitt.com / www.lolakitt.com