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Opinião

“Bi”cho Estranho

ela, lucia freitas, cc
Este artigo foi escrito pela Beth, cariocat de 40 anos, Luluzinha desde 2009, editora do www.avidasecreta.com e co-fundadora do www.blogseroticos.com.br
. Foi escrito, a pedidos, depois de uma discussão em nosso grupo, exclusivamente para o LuluzinhaCamp.

Posso assegurar ninguém escolhe ser homo ou hetero e, muito menos, bissexual. E digo muito menos, pois sinto, de verdade, que o bi é um bicho estranho aos dois mundos. Objeto de curiosidade ou mal interpretado tanto lá quanto cá, seja onde for.

O primeiro contato imediato de terceiro grau que tive com sexo foi aos 6 anos com uma menina. E com a mesma naturalidade que, por curiosidade, nos tocamos, na mesma época eu também dei umas bitocas em um coleguinha de escola. Crianças são assim, experimentam sem medo. Adulto é que complica tudo.

Orientada dentro dos padrões heteronormativos cresci me envolvendo com rapazes. Era assim, não questionava. No entanto, à medida que amadurecia sexualmente fui mais flexível, ao longo da minha vida fui ousando experimentações tanto de práticas (adoro uma novidade) quanto de gêneros.

Do ménage-à-trois FMF (quando duas mulheres interagem com ele, mas não entre si) a uma relação sexual lésbica demorou um pouco, talvez porque tivesse um tempo certo, não sei… Somente depois dos 30 anos aconteceu, incentivada por um namorado que tinha o típico fetiche de ver duas mulheres se pegando. No entanto, fiz questão que esse primeiro contato fosse somente com uma menina, não seria algo nosso, seria algo meu. E foi.

Ainda foi só sexo, mas algo havia mudado, eu havia gostado! É lógico que depois tive meus momentos de neura, tipo: “Putz, como foi bom sentir o corpo dela, prová-la… Sou lésbica? Cara… Como posso ser exclusivamente lésbica se também gosto de fazer sexo com homens?”

Sem conseguir respostas segui vivendo, sem muitas encucações. Namorando homens e eventualmente saindo com mulheres, quase sempre em contextos a três, até que um dia conheci aquela por quem me apaixonei. E sabe aquela coisa de que sexo com amor é sempre melhor? Com mulheres não é diferente. Nada mesmo. É ótimo estar com quem se gosta.

Só doía a repressão social. Salvo os guetos, redutos gays, manifestações explícitas de carinho podem ser tomadas como atentado ao pudor. E a gente acaba se policiando, com despedidas discretas, como se estivéssemos fazendo algo ilícito, quando não é. Como se a única forma de amor possível fosse heterossexual. Era bem sofrido. A relação acabou porque tinha que acabar, mas ficaram boas lembranças.

Não posso dizer que, além do fator social, amar homens e mulheres facilita ou atrapalha. Relacionamentos são complicados, independente do gênero. Talvez mulheres sejam mais complicadas, não sei. No entanto, aceitam melhor a bissexualidade que eles, principalmente se forem bi também. Afinal, para um homem, entre duas mulheres sempre faltará ele. Alguns morrem de ciúmes, outros querem participar, mas… Dificilmente encaram realmente numa boa, principalmente quando há uma relação afetiva e não só sexual.

Um comentário… Desde que me envolvi homoafetivamente, curiosamente nunca mais fiz sexo à três… Me sinto completa em uma cama, tanto com eles, quanto com elas, colocar mais gente só complicaria.

No entanto o pior, o que jamais pensei, e digo isso do fundo do coração, é que pelo fato de ser bissexual fosse sofrer tanto preconceito e me sentir tão sem lugar. Tanto por parte de homossexuais, que tratam como se o bi fosse um homo enrustido, alguém que não aderiu ou traiu a causa, quanto dos heteros que pensam igual ou pior e ainda vêem o bissexual como um promíscuo. Quando nem sempre é assim.

Amo homens e mulheres. Não escolhi ser assim, do desejo ninguém foge, seria mais fácil não ser. No entanto, cada vez mais eu percebo que certas coisas a gente não escolhe, quem amar principalmente. Isso simplesmente é. E sendo, não tem muita escolha… A gente vive e pronto!

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Ações e Campanhas

Contra a Homofobia!

Hoje, o post vem mais tarde porque pela manhã participei da II Marcha Nacional Contra a Homofobia, que contou com 5 mil pessoas. Marchamos contra a homofobia, o machismo e o racismo. Marchamos por um mundo mais igualitário e pelos direitos humanos. Marchamos para que a discriminação deixe de causar tanta violência em nosso pais.

Nosso Grito!
Nosso Grito! Imagem de Srta. Bia no Flickr, em CC

A homofobia não é um problema que afeta apenas a população LGBT. Ela diz respeito também ao tipo de sociedade que queremos construir. O Brasil só será um país democrático de fato se incorporar todas as pessoas à cidadania plena, sem nenhum tipo de discriminação. O reconhecimento e o respeito à diversidade e à pluralidade constituem um fundamento da democracia. Enquanto nosso país continuar negando direitos e discriminando lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais não teremos construído uma democracia digna desse nome.

Trecho do Manifesto da II Marcha Nacional Contra Homofobia

Tem Cura!
Homofobia, Machismo, Intolerância, Discriminação, Alienação, Sexismo, Ignorância, Preconceito TEM CURA! Foto de Srta. Bia no Flickr, em CC.

Uma das grandes comemorações da Marcha foi a recente decisão do STF que reconheceu a união estável entre homossexuais. As pessoas desceram em marcha até a frente do Supremo Tribunal Federal, estenderam a imensa bandeira arco-íris e se abraçaram numa grande manifestação de agradecimento. Uma vitória que nos enche de esperança.

Afinal,  se as pessoas de preferência heterossexual só podem se realizar ou ser felizes heterossexualmente, as de preferência homossexual seguem na mesma toada: só podem se realizar ou ser felizes homossexualmente. Ou “homoafetivamente”, como hoje em dia mais e mais se fala, talvez para retratar o relevante fato de que o século XXI já se marca pela preponderância da afetividade sobre a biologicidade.

Logo, é tão proibido discriminar as pessoas em razão da sua espécie masculina ou feminina quanto em função da respectiva preferência sexual. Numa frase: há um direito constitucional líquido e certo à isonomia entre homem e mulher: a) de não sofrer discriminação pelo fato em si da contraposta conformação anátomo-fisiológica; b) de fazer ou deixar de fazer uso da respectiva sexualidade; c) de, nas situações de uso emparceirado da sexualidade,  fazê-lo com pessoas adultas do mesmo sexo, ou não; quer dizer, assim como não assiste ao espécime masculino o direito de não ser juridicamente equiparado ao espécime feminino ? tirante suas diferenças  biológicas ?, também não assiste às pessoas heteroafetivas  o direito de se contrapor à sua equivalência jurídica perante  sujeitos homoafetivos. O que existe é precisamente o contrário: o direito da mulher a tratamento igualitário com os homens, assim como o direito dos homoafetivos a tratamento isonômico com os heteroafetivos.

Trechos do voto do Ministro do STF Ayres Brito.

Bandeira no Congresso Nacional
A Bandeira do Arco-íris em frente o Congresso Nacional. Foto de Srta. Bia no Flickr, em CC.

E lembre-se, você não precisa marchar nas ruas para lutar contra a homofobia e outros preconceitos. É sempre muito bom ir às ruas mostrar para os intolerantes que somos muitos, mas você também pode se informar e esclarecer outras pessoas. No caso da homofobia, conheça o PLC 122 e o programa Escola Sem Homofobia além de outras políticas públicas LGBT’s. Apoie, critique, discuta, mas sempre baseando-se em informações corretas, não em factóides que espalham mentiras e emperram nossa comunicação. O amor deve andar livre pelo mundo, junto com o respeito e a diversidade. Há um álbum no meu flickr com fotos do dia de hoje. E recomendo posts de outras Luluzinhas que também apóiam o amor e os direitos de todos os brasileiros serem felizes, sem exceção:

[+] Dia Internacional do Combate a Homofobia da Cintia Costa

[+] Dia Internacional do Combate à Homofobia da Monise, com bela seleção de bolos temáticos.

[+] Inspirações para casamento gay uma bela seleção de fotos feita pela Cintia Costa

[+] A polêmica da #UniãoHomoafetiva e #ChupaMalafaia da Evangelista

[+] PLC 122 – Você Precisa Conhecer! e 17 de maio: Dia Mundial e Nacional Contra a Homofobia +2 posts meus.