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Histórias Íntimas

No Brasil, durante o fim do século XIX, a parte do corpo da mulher que era o maior fetiche eram os pés. Como eles eram as únicas partes que ficavam descobertas, os homens enlouqueciam olhando tamanhos, dedinhos e afins. Ninguém prestava muita atenção nos seios femininos. Há toda uma construção social sobre nossos desejos, sobre o que achamos bonito ou excitante. O erotismo muda através dos tempos, o que infelizmente permanece é o controle do prazer sexual. A idéia de que sexo é algo pecaminoso e que a virgindade feminina é um trófeu também são construções do nosso imaginário erótico social.

E é sempre sobre a mulher que o controle é exercido com maior rigidez. Até hoje há mulheres que são criadas para casar, terem relações sexuais apenas com um homem durante toda a vida e terem muitos filhos. Prazer no sexo? Nem pensar. O homem pode ter suas fantasias proibidas com mulheres fora de casa, enquanto o valor da mulher é medido pelo seu recato. Não parece ser à toa que vemos tantas mulheres saindo ás ruas pelo mundo em Slutwalks, lutando pelo direito de serem donas de seus corpos.

No livro Histórias Íntimas, a historiadora e escritora Mary Del Priore, apresenta um interessante panorama da construção do erotismo brasileiro desde o período do Brasil Colônia, até os dias atuais em que o divórcio é tão comum e o sexo alcança nosso olhar em todos os lugares. A leitura é muito prazerosa, para fazermos um trocadilho. A escrita é clara e pontua algumas reflexões. A única coisa que realmente senti falta foi ver mais sobre o impacto da pornografia em nossa sexualidade. Em uma entrevista Mary Del Priore fala um pouco sobre isso:

Os seios ganharam importância quando a lingerie começou a se difundir, no século 20. Antes, a roupa íntima da mulher era uma sobreposição de saias compridas, repletas de botões e laços. Despir-se era complexo. A lingerie levou o olhar do homem para uma parte do corpo feminino até então vista como meramente funcional, chamadas de “aparelhos de lactação”. Mas a grande moda dos seios veio mesmo na década de 1950, com o cinema americano, a Playboy e a Marilyn Monroe.

Fica a dica de um bom livro para curtir nas férias e pensar sobre como a economia, a industrialização e os hábitos de higiene afetaram a maneira como encaramos o sexo e o prazer. Há vários momentos do livro em que rimos para não chorar de tantas bobagens já impostas as pessoas quando se fala de sexo. Deixo um trecho como exemplo:

Assim, o homem era responsável por uma tripla função: combinar a reserva espermática, a fecundação vigorosa e evitar a volúpia da parceira. O risco? Sem esse coquetel, o coito podia detonar “furores uterinos” — forças adormecidas nas mulheres normais, mas que eram reveladas por ninfômanas e histéticas.

Nos anos 1840-1850, dois médicos franceses, Pouchet e Négrier, descobrem os mecanismos da ovulação. A mulher deixou de ser considerada uma simples portadora de ovos para fazer parte da Criação. Mas ela pagou um alto preço por isso. A espontaneidade da ovulação tornava inútil o orgasmo. Só a ejaculação masculina era indispensável. Por décadas, os homens puderam esquecer as reações de suas parceiras. A necessidade de prazer lhes era oficialmente negada. Um ou outro doutor mais sensível invocava a possibilidade de as esposas gozarem. Mas apenas como garantia contra a infidelidade. Era o medo do adultério que permitia um número maior de carícias.

Histórias Íntimas de Mary Del Priore, páginas 80-81.

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A Pública

Esses dias, por meio de um tweet aqui, um aviso num acolá, acabei chegando no site A Pública. Uma agência de reportagem e jornalismo investigativo que produz material de qualidade, licenciado em creative commons. E sabe qual o mais bacana? O projeto é capitaneado por três mulheres: Marina Amaral, Natália Viana e Tatiana Merlino, que, entre elas, têm seis prêmios Vladimir Herzog de Direitos Humanos, um prêmio Andifes de Jornalismo e um Prêmio Troféu Mulher Imprensa.

O objetivo da Pública é produzir conteudo jornalístico de interesse geral, que muitas vezes não ganha espaço na grande mídia. A proposta da Pública é fazer jornalismo  “puro” – reportagem – em parceria com veículos, instituições  e jornalistas independentes do Brasil e do mundo. A organização Wikileaks e o jornalista britânico Andrew Jennings estão entre os que já participam do projeto. A proposta também é produzir reportagens em diversos formatos – áudio, vídeo, foto, texto, infográficos – utilizando as ferramentas do jornalismo digital para trazer ao público informação de qualidade, com a interatividade que os recursos oferecem. A missão da Pública é fazer jornalismo de interesse público com o máximo de independência, seriedade e profundidade possível – mas sem deixar de lado a sedução da boa reportagem. Entre as reportagens mais recentes há várias sobre os desaparecidos na região do Araguaia durante a Ditadura Militar.

A Pública é uma boa notícia, num momento em que a mídia tradicional produz cada vez mais factóides ao invés de elaborar boas reportagens. O advento da internet trouxe o caráter instântaneo da notícia, mas não podemos esquecer da importância de nos aprofundarmos em temas complexos. Matéria de outubro de 2010 da Revista Piauí, entitulada: “Caro, trabalhoso, chato” fala das dificuldades do jornalismo investigativo:

Investigações jornalísticas são trabalhosas, caras, demandam tempo e nem sempre rendem reportagens publicáveis. Pode se passar meses escarafunchando um assunto e não conseguir material suficiente. A maioria exige viagens e algumas requerem mais de um repórter trabalhando em tempo integral. Também costumam ser bem mais longas do que as matérias comuns, o que, no mundo do Twitter, lhes reduz o número de leitores em potencial.

Para resolver essa questão, A Pública pretende trabalhar em colaboração com parceiros internacionais em apurações de maior fôlego e publicar reportagens por eles produzidas. Além de estabelecer parcerias com fundações e instituições para pesquisas de longo prazo. O jornalismo investigativo não é tão popular nos dias atuais, em que as pessoas preferem se informar por meio de um tweet. Porém, é essencial para acreditarmos na função social do jornalismo e no fortalecimento do direito à informação. O nascimento de uma agência de jornalismo investigativo no Brasil, feita por mulheres, que disponibiliza gratuitamente o acesso gratuito à informação, deve ser celebrado num momento em que a internet permite o surgimento de uma sociedade mais aberta e colaborativa. Não deixe de acompanhar este projeto.

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Moda Para Todas

Esses dias as Luluzinhas estavam falando sobre blogs de moda e achei legal compartilhar algumas dicas aqui.

Muita gente acha que moda é pura futilidade, mas a coisa não é bem assim. Nosso vestuário reflete muito os costumes de um determinado período, afinal nossa mãe não se vestia como nós e nem temos mais as mesmas roupas que usávamos nos anos 80. Agora imagine o quanto de história há nos trajes da época do Brasil Imperio. O vestir-se é uma forma de linguagem. Moda hoje significa cultura e representação artística. Já falei um pouco sobre como a moda tem tudo a ver com cultura livre no post Mídia Social, Gênero e Cultura Livre. Hoje quero falar de dois blogs específicos que mostram que moda é para todas, especialmente para quem gosta de soltar a criatividade.

Pelo twitter da Revista TPM descobri o blog da Wendy, o Wendy’s Lookbook. Ela explica que busca inspiração em várias coisas como:  arte, natureza, cultura, arquitetura, comida, pessoas e músicas. Moda representa uma compilação de tudo isso, pois é um veículo para que ela possa brincar com formas e cores, descobrindo seu estilo pessoal. Além da moda, a Wendy é super engajada socialmente, sendo voluntária em programas de reabilitação de jovens infratores, pois ela sabe como é ter uma juventude difícil, batalhou muito para se graduar. Mas e aí, por que tô falando da Wendy? A razão dela estar aqui é um vídeo divertido em que ela ensina 25 maneiras de usar um lenço. Parece bobagem, mas pense naquele lenço bacanérrimo que está no seu armário e como ele pode mudar totalmente um visual. A Wendy te ensina isso num vídeo interativo.

E aí, gostou?

Minha segunda dica é o blog de uma francesa chamada Sakina, o Sak’s In The City. A Sak é uma mulher que tem curvas e ama moda. Na maioria das vezes, as gordinhas tem que rebolar para encontrar peças bacanas que estejam na moda. Muitas das lojas específicas ainda vendem roupas que ficariam ótimas em nossa avó, mas nem nós queremos ver nossas avós tão sem graça. A Sak também cria seu estilo a partir do lúdico, da mistura e do desejo de brincar com a moda. Instigando a criatividade e a novidade em novos looks. Seu trabalho é tão legal que ela se tornou colaboradora da Vogue sobre moda plus size. O que mais gosto nos looks da Sak é que sempre tem um detalhe que deixa o look super a cara dela, como um sapato de oncinha ou uma bota roxa. E ela promove encontros super festeiros com outras gordinhas que também amam moda, provando que todo mundo quer participar dessa brincadeira de se vestir.

Sakina em foto do seu blog Sak's In The City. Clique para abrir a galeria.

Essa é Sakina arrasando na pose do açucareiro. Chique, linda e fashion! Tenho ela como grande inspiração na hora de montar looks, porque é maravilhoso poder criar usando roupas confortáveis. Agora, não deixe de conhecer os blogs bacanas sobre moda e tendência de algumas Luluzinhas, feitos por várias mulheres que adoram moda:

[+] Chat Feminino da Anne Rego

[+] É Tudo Questão de Estilo da Pietra Sugiyama

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Annie Leibovitz

Esses dias achei o documentário Annie Leibovitz – A Vida Através das Lentes. O subtítulo é como Annie define a vida de fotógrafa. Uma vida em que se fotografa da mesma maneira que outras pessoas comem e respiram. Um filme rápido (80 minutos) e bacana de se ver, pois entra na intimidade do trabalho e da família, é dirigido por Barbara Leibovitz, irmã de Annie. Fora que é muito interessante ver como foi a vida de uma pessoa tão criativa, como se desenvolveu até ser a grande fotógrafa que é hoje. O filme conta as histórias de muitas fotos famosas, além dse sua história de vida.

Annie nasceu numa grande família. Pai, mãe e 5 irmãos, ela é a terceira. Sua mãe sempre foi a grande documentarista da família, amava câmeras. Durante a Guerra do Vietnã, o pai militar foi morar nas Filipinas e carregou a família. Lá, como não tinha muito o que fazer, Annie se interessou por fotografia. Retornou aos Estados Unidos em 1967, para estudar no Instituto de Artes de São Francisco. A partir daí começou a trabalhar e viver intensamente os anos em que vários paradigmas foram quebrados. Tornou-se a principal fotógrafa da Rolling Stone e talvez seu ápice tenha sido a famosa foto de John e Yoko, feita poucas horas antes dele ser assassinado.

Capa da Revista Rolling Stone dez/1980. Foto de Annie Leibovitz.

Na revista Vanity Fair desenvolveu o estilo que a consagrou. Uma de suas capas mais famosas é da atriz Demi Moore grávida e nua. Essa imagem causou grande debate sobre o papel da mulher, seu corpo e a maternidade. Casou com a escritora e intelectual Susan Sontag, que lhe abriu novos caminhos, levando-a para documentar a Guerra da Bósnia em Sarajevo. Aos 50 anos decidiu ter filhos. Seus ídolos são Robert Frank, Cartier-Bresson, Barbara Morgan e Richard Avedon. Beatriz Feitler, designer e diretora de arte brasileira, foi uma grande influência em sua carreira, incentivando-a no desenvolvimento da técnica e no desejo de transcender, de criar um significado marcante para cada fotografia. Annie começou fotografando ídolos do rock em momentos íntimos, atualmente faz belíssimos editoriais de moda para a Revista Vogue.

Capa da Revista Vanity Fair ago/1991. Foto de Annie Leibovitz.

É bacana ver Annie fotografando, pesquisando, criando. Ela desenvolveu um estilo em que a pessoa tem que ser parte do que está acontecendo. Suas fotografias são narrativas. A criatividade é um processo de trabalho, não surge repentinamente, é resultado de pesquisa e aprimoramento do olhar. Quando Annie está focada nos pés de um bailarino ou no cabelo de uma celebridade, ela procura algo que seduza as pessoas, mas também algo que capte aquela mínima fração do tempo, um momento que nunca mais retornará. Em determinado momento, Annie diz: “A lente lhe dá direito de sair pelo mundo sozinha, mas com um propósito.”

Esse post convida você a exercitar sua veia fotográfica por aí e deixo como inspiração os portfolios de três talentosas fotógrafas Luluzinhas:

[+] Claudia Regina

[+] Gabi Butcher

[+] Natalie Gunji

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Miau! Miau!

Uma coisa que você logo nota quando chega num encontro do LuluzinhaCamp é que em algum momento um grupinho estará falando de gatos. Mas não pense que o assunto é homem, um dos principais interesses das mulheres deste grupo são os felinos. Lindos, enigmáticos, ronronantes, fofos, temperamentais, amorosos, independentes, preguiçosos, carinhosos, tagarelas, exigentes, elegantes, doces e apaixonantes. Gatos, gatas, gatinhas, gatões, gatinhos e gatonas frequentam a casa de diversas mulheres do grupo. E mesmo quem não tem gato (como eu!) acaba se apaixonando pelos irresistíveis felinos. Aviso logo que em pouco tempo participando de encontros do LuluzinhaCamp, logo você estará se candidatando a ser babá de gatos quando alguma dona tiver que viajar.

Então, quando vi a capa da nova releitura de A Metamorfose, impossível não lembrar de vários blogs de gateiras e de vídeos fofos de gatos.

Tô Gato? Divulgação/Editora Quirk Books

Em The Meowmorphosis ou A Miaumorfose (não sei ao certo como será o título em português), o personagem principal da trama um belo dia acorda e percebe que é um gatinho fofinho. A partir daí sua família, seu trabalho e sua vida serão bastante afetadas. No original, o personagem principal se transformava num inseto asqueroso, ao que parece a literatura de Kafka tem chances de se tornar mais prazerosa, não é? E a vida deve ser bem mais fácil para quem consegue fazer carinha de gatinho do Shreak. O autor da releitura é um escritor/blogueiro que prefere não se identificar. Torcemos para que seja um bom romance e que no futuro o autor figure entre outros mestres das letras no Tô Gato?

Para você que adora os felinos a dica de hoje são dois blogs:

  • Gatoca. Na casa da jornalista Beatriz Levisch sempre cabe mais um. Acompanhe o dia a dia de uma casa com 10 moradores felinos e alguns temporários que precisam muito de um lar. A melhor parte é que você pode ajudá-los, seja adotando os temporários ou comprando as rifas que ajudam a pagar os gastos. O coração de pudim agradece e você pode ver momentos especiais de pura fofura gratuitamente.

Por fim, alegre seu dia com as tirinhas e vídeos de Simon’s Cat. Duvido que seu dia não melhore depois dessa: